O mais novo filme animado da Netflix, Guerreiras do K-Pop (Kpop Demon Hunters), chegou de supetão e já foi arrecadando uma leva absurda de fãs. Perto de sua estreia sites como Letterboxd tinham o incrível score de 4/5, que se você usa a plataforma sabe que não é normal. Óbvio que essa nota se arrumou com o tempo, caindo para algo em torno de 3, alguma coisa. Mas já demonstra ali o estouro absurdo que o longa teve.
Essa leva inicial de notas pode ser retraçada a investida da Netflix no mercado coreano de dramas, ou k-drama como muitos chamam. Séries que tem feito um sucesso absurdo e vem tomando cada vez mais o catálogo dos streamings. Lógico que podemos voltar ainda mais e dizer que o próprio k-pop, um dos temas do filme, ajudou a setar essa leva inicial de fãs abruptos. E ainda sobra espaço para considerar filmes coreanos e a popularidade crescente dos manhwas, quadrinhos, em especial na plataforma Webtoon e suas subsequentes adaptações.
Mas na minha cabeça, e de muitos, acredito eu, o filme era mais para o público do k-pop e k-drama. O que justifica o meu atraso em ir assistir Demon Hunters. Eu conheço k-pop por cima, e admito ter visto somente um k-drama. O que fez com que eu optasse por esperar essa mudança de notas antes de assistir, pensando justamente que era um efeito de hype proporcionado pelo público alvo. E talvez eu esperasse mais se não fosse um comentário que me animou um bocado.
Acontece que Kpop Demon Hunters e do estúdio Sony Pictures Animation, e parte dos animadores participaram do filme Homem-Aranha: No Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse). Assim tornando o que me parecia mais um filme modinha em algo que eu genuinamente tinha interesse de ver. E eu sei, talvez esse ponto não baste para justificar que você assista o filme, mas fica tranquilo que tem muitos outros pontos bons aqui.
O longa começa como você bem espera. Um grupo de fãs a frente de um show prestes a começar e um flashback justificando o lado da caça de demônios. Os fãs então descrevem como veem cada uma das garotas, vemos um poucos dos bastidores e o agente entra em surto pois elas estão atrasadas ainda em voo. Então corta para o avião e tudo muda.
Agora estamos com as 3 principais. Rumi, líder da banda e vocalista principal, Mira, coreografa pavio curto e Zoye, rapper, liricista e maknae. E em 5 segs puta merda, filme vendido, sou fã pra caralho delas, meu deus que foda, rindo pra caramba, hype nas alturas e cade meu autografo? Aaaaaaaaaah! xD Que sequência de acontecimentos maravilhosos!
Primeiro é elas conversando e comendo feito porcas, mostrando um bocado a qualidade da animação e já entregando fácil a personalidade real delas, contrapondo o apresentado pelos fãs e destruindo a imagem inicial que temos preconcebida antes mesmo de dar play. A parte facial é muito boa, indo do normal para a comédia de supetão, fazendo ser quase impossível não gargalhar. E olha que é difícil me fazer rir.
Ao fundo temos atendentes de bordo agindo de forma super bizarra, quase puxando a David Lynch não fossem todos agindo assim. Elas notam isso, são demônios disfarçados e temos uma ótima cena de luta, onde além de bem coreografada elas já começam a cantar ali mesmo, com lip sync em meio ao combate, vendendo ao espectador tanto a ação, quanto o lado musical e ainda com piadas rolando. Um combate foda em um avião em queda se despedaçando.
Elas então pulam e terminam a música no palco, agora como um show de k-pop mesmo, fazendo todos vibrarem. Acaba, vai para os bastidores e temos agora as preocupações e objetivo delas, além da introdução do vilão principal, Jinu. Um demônio líder de uma boyband. Dessa forma setando os detalhes centrais da obra de forma rápida e precisa, e nisso mostrando que seu público alvo não é somente aquele esperado de k-pop com k-drama.
Daria até pra brincar que Guerreiras do K-Pop veio para unir todas as tribos. Fãs de k-pop, k-drama, filmes coreanos, manhwas, ação, musicais, animação, spider verse, mukbang, comédia, Star Wars, sobrenatural, anime, Mitchells vs. the Machines, mitologia, romance, boyband, bastidores, Jentry Chau vs the Underworld, etc. Bem naquelas de “O que fui assistir, o que realmente vi”.
Memes a parte, o que quero dizer com isso é que o filme tem um apelo bem mais amplo, capaz de agradar bem mais espectadores do que eu previ inicialmente, sendo de fato um filme muito bom que me fez ficar interessado desde seu minuto inicial e me surpreendeu um bocado. Mas não confunda isso com “o filme é para todos”, afinal nenhuma obra tem apelo universal, isso não existe. Eu só acho que no caso desse vale sim dar uma chance e consigo ver muitas pessoas adorando o filme.
Além das lutas, comédia e parte musical, o filme também apresenta um certo drama que vai avançando ao decorrer da obra e um romance um tanto espaçado, que funciona, mas acho o ponto mais fraco. Basicamente só serve para avançar a trama e auxiliar nos trechos de drama como um ponto contrastante. Mas que ao final eu não estava tão interessado, e falando neste…
Eu não curti como o filme termina. Não digo que é péssimo, na verdade nem consigo me ver afirmando como ruim. O lance é que o final é mais ação, como era de se esperar, mas eu gostaria de ter visto ali algo menos típico. Você prevê de longe tudo da cena, indo pra um lado mais clichê, por mais que encaixe e funcione. Enquanto eu preferia que tivessem apostado em algo similar ao começo. Caos, comédia, e coreografia foda, junto da parte de ação e musical.
Digo isso pois acho que o lado mais forte do filme cai na comédia, junto das animações super bem-feitas, e o caos. O lado mais experimental só contribui na parte de animação, tornando tudo mais divertido e visualmente mais atrativo. E as coreografias, seja da música ou ação, seguem por um caminho similar. Num ponto que posso resumir como, foi legal, mas eu esperava mais.
Enfim. Kpop Demon Hunter é muito bom, e eu repito, dê uma chance. Adorei assistir e to amando essa nova leva de filmes da Sony e similares que mesclam 3D com 2D, fazendo assim algo mais atrativo e com uma possibilidade mais ampla, quando se trata da animação.
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