Rodan – O primeiro Kaiju em cores!

Anteriormente fiz o review de King Kong vs Godzilla (1962), e existiam algumas opções para o nosso próximo texto de kaijus. Rodan (1956), Mothra (1961), Mothra vs. Godzilla (1964) e King Kong Escapes (1967). Escapes faria sentido, apesar de posterior aos demais, por ser continuação direta. O mesmo vale a VS por ser o seguinte de Godzilla, com Mothra podendo vir antes para vermos se existem ligações entre os longas.

 

Mas no fim acabei escolhendo ver Rodan. O pteranodon gigante dá as caras posteriormente em Ghidorah, the Three-Headed Monster (1964) e desde então segue como um kaiju recorrente em diversos filmes do Godzilla. Motivo mais do que suficiente para eu ir atrás do filme e fazer esse review. Porém quando se fala na ordem de textos, eu simplesmente resolvi ser careta e ir pelo ano de lançamento.

E sim, esse lance de anos já foi quebrado com o King Kong VS, e até me arrependo um tento disso. Pois como falei no texto anterior, o filme com o macacão é super divertido e era algo extremamente bem-vindo depois da bomba que foi assistir o terrível Rides Again. Só que após ver Rides, eu queria mais do que tudo um novo Godzilla de 54. E Rodan era exatamente isso, quase que na medida certa.

Digo quase pois o filme, apesar de seu tom mais sério e grande foco nos personagens humanos, acaba tendo momentos bem distintos que podem vir a incomodar, alguns trechos excessivamente longos, e nunca chega de fato aos pés do Godzilla original, mesmo sendo incrível em tantos outros aspectos e flutuar entre os meus filmes de kaiju favoritos.

Entrando em alguns spoilers leves, o filme não começa com Rodan. Temos mais de um monstro nessa trama, e temos um começo quase exclusivo dos humanos em algo bem atmosférico, que parece realmente um filme de terror. Voltando ao uso de sombras e ambientes escuros que tanto elogiei no primeiro Godzilla. Em parte para esse clima, em parte para ocultar as feras, assim amplificando o suspense.

 

Algo que obviamente não funciona tão bem com o Rodan em si. É bem legal analisar e ver o uso de diversas técnicas nesse “ocultar”, que inclusive é feito durante o dia no que considero a segunda parte do filme, a qual veremos mais à frente. Mas é inegável que todo mundo já tinha visto o pterossauro. No ano do filme a culpa cai nos materiais de divulgação, como pôsteres, e atualmente todo mundo já viu o bixão de cima a baixo.

 

Mas ainda assim é inegável a visão artística do diretor Ishirō Honda nesses momentos. Num começo que foca bastante nos perigos da mineração, onde em parte a primeira criatura exemplifica de forma mais drástica esses problemas, ao mesmo tempo que ela e Rodan também são avatares da natureza contra a poluição e destruição humana.

Aí você vira e pensa. Ok, mas pra que ter desmoronamentos, enchentes e afins, se a criatura exemplifica tais pontos? Por um lado ela pode ser entendida como a causadora desses problemas, e outros pontos como tornados e terremotos caem sobre os atos de Rodan. Mais do que nunca, eles parecem forças inevitáveis da natureza.

Em determinado momento, falam que Rodan acordou devido a uma bomba atômica. Isso pode ser interpretado como falta de criatividade e repetição do plot de Godzilla. Mas pense que essa é uma teoria, é que na fala ele se refere a radiação poluente da bomba, e não a explosão devastadora, sendo então outro ponto da tragédia armamentista posto em cena. E que é algo tão ruim quanto o impacto.

 

Já no começo, quase na cena inicial, reclamam do aumento constante de calor e logo mencionam efeito estufa e derretimento dos polos glaciais. Enchente entra em pauta, e na sequência ligam falando que o túnel inundou. Fazendo com que desde seu ato de abertura esteja claro que Rodan é sobre poluição, e eventualmente as feras são a natureza revidando.

 

Saímos do primeiro ato de escuridão claustrofóbica no momento que Rodan desperta. Ocorre um terremoto e ainda não vemos o monstro em cena. No começo só temos relatos, tanto do Japão como de países vizinhos, com direito a estrangeiros falando em suas línguas nativas.

 

Acho legal mencionar essa parte por 2 motivos. O primeiro, bem óbvio, é que apesar da claridade e do colorido, encontram-se maneiras de ocultar o Kaiju. Ele vai sendo comentado, depois mostram ações do vento, borrões incompletos e rastros de nuvens perfuradas. Talvez de forma um tanto mais longa do que eu gostaria, mas ainda é super criativa as ideias.

Do outro lado, com os multiplos idiomas e outros pontos, notamos que o filme conta com uma verba avantajada, que infelizmente também destaca alguns problemas técnicos. Temos filmagens panorâmicas e uso de veículos de guerra reais, que logo se transformam em maquetes perfeitas, capturando cada detalhe do ambiente real. Além de apresentar diversos locais de filmagem e não depender tanto das maquetes ou pedreiras, apesar de estarem ali.

 

Quando Rodan realmente aparece sem ser em voo também é um espetáculo. Na primeira vez ele é filhote, ainda naquele ambiente tenebroso das minas, de forma a parecer inclusive mais carnudo do que suas posteriores versões que me lembram borracha e isopor. Consumindo insetos que parecem reais, em algo estranhamente visceral. Isso é, se comparado a demais filmes que assisti. Onde aqui inclusive temos contagem de corpos com sangue e detalhamento verbal da morte.

 

Pode não ser um Evil Dead ou similar, mas ainda é um ponto de impacto. E na real, não compararia tanto Rodan com terror. Pois por mais que o começo tenha o clima, nunca de fato chega nesse ápice. Com a segunda parte, onde o monstro central dá as caras, sendo tão diferente que quebra todas as chances de o filme adentrar 100% no gênero. Talvez caindo bem mais para ficção científica. Uma dissonância que deve fazer muitos droparem o longa.

 

Mas se você insistir vai ser presenteado com cenas magníficas, como a segunda vez que vemos Rodan por inteiro, adulto, em toda sua glória. Numa cena de destruição que faz o gigante literalmente parecer um tornado, graças aos efeitos aplicados na maquete que realmente simulam um desastre real dessa escala.

Se não, talvez você olhe o corpão borrachudo de látex do kaiju e ache tosqueira pura. Num filme como King Kong VS essas cenas são engraçadas e muitos revelam a qualidade por conta da graça. Um fator que acho fundamental pra gostar de filmes de Kaiju. Mas o tom mais sério de Rodan pode agir contra esses pontos, fazendo simplesmente parecer algo mal pensado, por mais que se entenda que é algo criado para um filme mais antigo. Que ao meu ver faz tais cenas serem brilhantes, mas que para outros é inevitável um engasgo com gostinho de eca.

 

Ai tu soma isso a erros de edição, mais telas verdes, desenhos no lugar de cenário e cabos de segurança aparecendo e você tem um prato de nojinho pronto. E inclusive eu não escapo disso. Pois acreditem, como profissional de vídeo eu noto muita coisa. Mas no fim do dia não acho que seja o suficiente para desmerecer o todo.

 

E se você leu até aqui e estranhou eu não falar dos atores, existe um motivo forte para isso. Ninguém de fato é memorável, tirando o principal Kenji Sahara. Um nome recorrente aos filmes de Godzilla, tendo sido inclusive principal em King Kong VS, participado de vários filmes do Honda e sendo o protagonista de Ultra Q. Que aqui entra como um dos mineradores.

 

No resto, os humanos ou são muito mal aproveitados ou servem só pra “narrar” o que ocorre no japão. Fazendo o filme parecer inicialmente character driven, para depois mergulhar de vez num world driven sem fim. A não ser que considere Rodan um personagem de alguma forma, por mais que ele entre melhor, como já dito, como uma força da natureza. Assim descartando o uso dos humanos para mostrar consequências, fora uso bélico, e deformando em parte a mensagem central. Onde raros momentos de significância parecem simbólicos demais ou até sem contexto.

Portanto, apesar de lembrar o Godzilla de 54, o filme de Rodan ainda tem muitos pontos que destoam do clássico. Isso me incomoda. Vários detalhes não agradam e me engasgam. O ritmo é lento, maçante. Mas no geral quando analisado o filme se mostra grandioso e belo. 

 

Portanto recomendando fortemente Rodan. Só peço que ao assistir tenham uma mente aberta. Não é uma obra prima, mas sim um pedaço interessante de seu tempo. Que pode ou não lhe agradar. O famoso, 8 ou 80. Que no meu caso me deixou fascinado, talvez num aspecto de olhar mais crítico, e acabou ali vagando entre meus favoritos, como bem disse no começo.

 

No próximo texto falaremos de Mothra (1961), já nos preparando para voltar a Godzilla. E abaixo vou seguir falando um pouco mais de Rodan, porém com spoilers. Logo sugiro ler o resto do review somente depois de assistir o filme.

!!SPOILERS!!

Como já dito os atores não têm um impacto tão grande, tirando o Kenji Sahara. Portanto quando ele sai e se acidenta é onde eu começo a achar o filme estranho. Digo isso pois, por mais q a atuação dele como amnésico seja foda, eu queria algo mais focado nele. No sentido de ver ele reagindo mais ao Rodan.

 

Também acho que os insetos no começo do filme foram muito pouco aproveitados. Ok, eles servem de alimento. Mas não os gigantes. O que ocorre com eles? Esse é um ponto bem destoante e quebrado dentro do roteiro. E eu sei que eles podem vir a ser significativos noutro filme. Mas ainda acho bizarra a transição sem lidar direito com eles. E não aceito simplesmente que “ah, eles foram soterrados”. Pois se esse é o caso, porque Shigeru, personagem do Kenji Sahara, sobreviveu?

 

Porém eu não vim escrever spoilers só pra comentar esses pontos. O que realmente incomoda muita gente é o final no vulcão. A ideia de as feras, plural, caírem e morrerem no fogo, depois de tudo, soa como ridícula para muitos espectadores. Mas eu pessoalmente achei uma das partes mais significativas do filme.

 

Veja bem. O segundo Rodan que aparece do nada sem motivo é um um treco tirado do **. Esse sim é o ponto mais sem sentido do enredo inteiro, e eu acho que 2 desses bichões juntos nunca foi realmente necessário. Por mais que eu entenda a ideia por trás de ter 2, que pasmem, só funciona no vulcão. 

 

Voltando no filme, tem um pedaço estranho de 2 pessoas ricas indo num vulcão tirar fotos. Um casal. Esse trecho mostra que o homem corre depois da moça ser atacada, em vez de tentar ajudar. Sim, esse detalhe mínimo faz sentido quando visto junto do encerramento e vice versa.

No caso os 2 Rodans seriam um casal, e ao contrário dos humanos, o segundo Rodan desce para ajudar seu parceiro. Ambos morrem por conta da lava, com uma bela e triste música tocando. Esse momento representa por um lado a paixão verdadeira, mas por outro a derrota da bela natureza perante as mãos do homem.

 

O problema de tudo isso, por mais que eu ache lindo, é a porcaria do vulcão em si. Diria que nem é o fato de o Rodan descer e encostar na lava. Talvez ele estivesse cansado da luta, talvez os gases tóxicos do vulcão tenham afetado a fera. Mas por que um vulcão? Isso não me entra na cabeça.

 

A erupção pode ser um ferimento na terra ou poderia ser a natureza reagindo. E teve todo o lance bélico junto para causar o desastre. Mas no fim pareceu que a natureza matou a natureza, e esse ponto sim é ruim. Com muitos detalhes aqui e ali parecendo muito abruptos, com partes possivelmente cortadas, que não condizem com a lerdeza de outras cenas, e tudo não faz sentido com a especulada verba do longa.

 

No fim deixando a questão “porque não teve mais?”. Alguns vão indagar “porque não menos”, olhando justamente para partes alongadas, mas quando penso no mais é justamente pegando esses trechos e retirando tempo deles para outros detalhes. Por exemplo, mostrar o que ocorre com os insetos, dando mais espaço aos personagens, mostrando porque temos outro Rodan e assim vai. 

 

Mas que eu pessoalmente gostaria de ver mudando esse final. A ideia é boa, mas porque não um incêndio criado pelas armas? Talvez um ataque biológico partindo do mesmo princípio de gases e ignição. Se não, uma extensão do vulcão. Ou mostrando de vez que é o Monte Fuji, ou melhor ainda. Os kaijus morrem, mas a erupção termina de devastar o Japão. Assim, finalmente, dando um motivo mais condizente com o tema e sem ficar no “pião rodando” para especulações sobre o que rola durante o tempo de créditos.

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