Atenção: Essa resenha e de uma continuação. Portanto terá spoilers de King Kong (1933), Godzilla (1954) e Godzilla Rides Again (1955).
O que dizer de King Kong vs Godzilla (1962)? O filme poderia ser algo péssimo. É um crossover entre 2 ícones do cinema, provavelmente pensado pelos estúdios para arrecadar grana. O maior fanservice de todos os tempos. E para piorar, uma continuação, bem entre aspas, de dois filmes terríveis que foram arrasados pela crítica.
E não, eu não estou falando dos clássicos King Kong (1933) e Godzilla (1954), os filmes de origem dos monstros. Não. Falo aqui de Son of Kong (1933) e Godzilla Rides Again (1955). Agora note a data desses filmes. Ambos são continuações que tiveram prazo extremamente curto de produção e que foram criadas para lucrar em cima de um sucesso inesperado.
Até os plots são parecidos, com novas versões, os “filhos” dos monstros lendários, sendo o foco. Crias que surgiram do nada, de criaturas que morreram. Um cash grab sem tamanho. E ao menos no caso de Rides Again, é isso que supomos. Pois existem fontes que juram que o filme é com o Godzilla original, ignorando que o final do clássico e o esqueleto da criatura boiando.

Eu falo mais de Raids Again no meu texto sobre o filme, o qual você pode conferir aqui, e não vou me adentrar muito no plot de Son of Kong, até porque o King Kong desse versus é outro. Mas preciso mencionar alguns detalhes do final de Rides e do começo do primeiro King Kong para explicar melhor o início desse cross over.
Vamos lá. Ride Again termina com o Godzilla sendo preso embaixo do gelo em uma ilha próxima ao Japão. E é isso que você precisa saber. Rides Again é tão ruim que sugiro pular o filme e apenas lembrar deste detalhe. Nada dele, fora o gelo, é relevante aqui. E mesmo assim é um detalhe tão insignificante que você jamais ia precisar saber para apreciar o VS. E ao mesmo tempo, apesar de também não ser preciso ver o Godzilla de 54, esse filme puxa bem mais do clássico. Até porque ambos os filmes contam com o mesmo diretor, Ishirō Honda.
O filme novamente tem grande foco nos humanos, porem em um tom mais cômico. E ainda assim os protagonistas Osamu Sakurai e Kazuo Fujita são extremamente carismáticos e memoráveis, ao contrário dos sei lá quem do filme anterior. E o começo coloca esses dois jovens e intrépidos reportes no papel do cast de King Kong, basicamente sendo a equipe que foi contratada para trazer o gorila gigante ao continente.

Mas apesar das similaridades e da nova origem de King Kong, o filme consegue se manter bem único e pouco derivativo. Basicamente mostrando essa parte da ilha, depois entrando em como impedir os monstros e culminando no embate épico. Meio que indo de comedia para algo mais sério e retornando a comedia. Ou melhor dizendo, e assim que tento explicar separando os atos do filme pelo tom de cada parte.
Não chega nem a ser spoiler mencionar essa sequência, pois VS é um desses filmes que tem de se ver aproveitar, e nada que eu diga aqui realmente vai estragrar o filmr. Os diálogos e personagens são bons, o enredo é ok, a direção é ótima. Mas no fim são apenas pedaços de um caminho construído para o grande clímax, que é a batalha entre as feras.
Voltando ao começo, eu diria que essa é a parte mais problemática do filme. Eu ainda acho a obra extremamente divertida e recomendo assistir. Porem os atores da ilha fazem blackface. Um ato hoje em dia considerado extremamente racista. Mas que dá para se entender pela época. Pois o Japão não tem muitas pessoas de cor e no período não existia a possibilidade de chamar atores estrangeiros. Sendo a pintura corporal a solução, mesmo que pessima, para esse ponto.

Por outro lado, a pintura é desnecessária. Habitantes de uma ilha não necessariamente tem de ter outro tom de pele. E ao mesmo tempo eu não diria que o racismo foi focado em cima de negros, mas sim de nativos indígenas e estranhamente havaianos. Isso porque eles têm vestimenta que mistura coisas de índios sul-americanos e de luau havaiano e pendem para o cliché estereotipado de pele vermelha norte-americano onde o índio ama tabaco.
Outro ponto que talvez desagrade o espectador e a luta da ilha. Isso porque o King Kong luta dessa vez com um polvo gigante. Eu particularmente acho bem legal essa parte, porem eles animaram um polvo morto, acredito eu, em tela verde. Uma técnica que visa colocar um ser ou objeto em outro cenário por meio de computação gráfica, assim inserindo o novo local numa literal tela verde. So que aqui o processo é mal feito, talvez pela verba do projeto ou pela época, e por conta disso o monstro fica borrado e podemos notar a tela aparecendo diversas vezes.
Isso para mim é um problema ínfimo. Godzilla é bastante conhecido por ter coisas estranhas desse nível, sendo algumas tão engraçadas que hoje em dia viraram meme. Agora indo para o segundo ato vemos a tetativa dos militares e do governo de deter os monstros, com comentários de pessoas e jornais, numa veia similar ao clássico de 54. Mas apesar do tom serio, quando chega a parte da luta a zoeira corre solta.

Eu diria que essa segunda parte do filme é meio que uma recapitulação, em parte, do primeiro Godzilla. Introduziram King Kong e agora é a vez dele. No original ele acorda e sai destruindo coisas, então nada mais justo do que repetir isso dando ênfase nos poderes do lagarto e de quebra apresentando o novo poder de King Kong. Eletricidade.
O gorila gigante aqui é outro, como já bem mencionei. Logo deram resistência elétrica e poderes de raios a ele para poder ficar pau a pau com o dinossauro nuclear da Toho. Não chega a ser algo amplamente utilizado, mas é um toque legal que se encaixa bem no plot.
Mas apesar dessas partes serem legais de ver e de detalhar aqui, convenhamos, todo mundo so quer saber de uma coisa. Quem vai vencer, King Kong ou Godzilla? Isso é tão o filme mais puramente resumido que não so tá no título como é mencionado acho que mais de uma vez. E quando a batalha começa mesmo, se segura amigo, pois é a melhor parte da porra toda.

Não é somente monstros se empurrando e mordendo como no Rides Again. É uma luta mesmo, e ambos os combatentes parecem equilibrados com a vantagem indo e vindo, sem nunca dizer quem vai realmente sair triunfante. Mas a parte boa mesmo é que é nesse momento que jogam o tom sério para o ralo e agora é so porrada e coisas toscas pra divertir ao máximo. O grande precedente de diversos outros filmes do lagarto e que iniciou a onda de monstro versus monstro.
Tem voadora, rolada no chão, poderes, pedras arremessadas e até arvore pela goela. O troço é escrachadamente ridículo, e ao mesmo tempo empolgante e engraçado a níveis absurdos. Um verdadeiro épico que vai ao máximo do que é tosco e volta triunfante como um must watch. Uma verdadeira obra prima, e eu não to brincando aqui.
Eu genuinamente amei esse filme, e teria visto antes, não fosse a porcaria do Rides Again. Novamente sugiro pular Rides e so recomendo não ver o longa se as partes da ilha lhe incomodarem. Agora se todo o resto que mencionei no texto e as fotos lhe agradam, amigo, tá esperando o que? Abrace a zoeira e se divirta.

Sobre o final do filme, aqui sem spoilers, existe um mito de que ele teve 2 finais. Alguns dizem que existiram duas versões do filme, cada uma com um monstro vencendo. Outros juram que King Kong sai ganhado, outros que é o Godzilla. E eu mesmo já tive essa conversa com meu irmão. Logo acredito ser um tipo de Efeito Mandela, uma memória falsa. Algo que se agrava por existirem 2 sequencias para esse filme. Mothra vs. Godzilla (1964) e King Kong Escapes (1967).
Mas não vamos ver nem um, nem outro para a próxima resenha, e sim Rodan (1956) e Mothra (1961). Dois filmes que precedem King Kong vs Godzilla, e sem o lagartão. Isso pois quero ver o que o VS puxa do filme solo da mariposa gigante e se o primeiro Rodan é relevante para o Ghidorah, the Three-Headed Monster.
Texto publicado originalmente em 30/09/2020
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