Sea of Stars é um jogo lindo e enorme. Talvez não no tempo de jogo, mas pela quantidade de coisas que você passa nessa jornada épica com Zale e Valere, os guerreiros do Solstício, e tantos outros personagens memoráveis que passam pela sua equipe. Com destaque a Garl, o Cozinheiro Guerreiro, que além de meu favorito eu colocaria como o principal da historia toda porque sim, foda-se.
Mas falando sério aqui, os principais obviamente são Valere e Zale. E note que mudei a ordem. No começo pedem pra escolher quem lidera o time, mas na real tanto faz. É quase cosmético. E ainda diria que os guerreiros são praticamente um único personagem nesse enredo.
O qual logicamente começa focando neles. Com a diferença de que vamos ao passado com eles bem criancinha e acompanhamos eles crescendo e treinando na academia do solstício, num momento muito story driven que mostra o escopo inicial dessa jornada e alguns breves momentos de tutorial.
No caso, Valere e Zale treinam para poder enfrentar os Residentes. São tipo uns monstros que se alimentam de emoções, que quando atingem uma espécie de maioridade podem virar devoradores de mundos, assim causando o apocalipse. É algo bem endgame, finalzão de RPG. Mas que em Sea é somente o início de algo que claramente vai tomar proporções ainda maiores do que o típico final de enfrentar um deus.
Ou talvez até tenha isso, não sou eu que vou estragar as surpresas. O que quero dizer com isso é que o TODO dessa história vai ser bem maior do que você pensa, apesar de já começar com algo gigantesco, por mais que como missão seja tecnicamente simples. Vá ao local indicado, no dia do eclipse e derrote o último Residente. Tá traçado, mas nunca é tão simples.
E acho legal falar dessa sensação de final, pois o jogo em diversos momentos parece que vai acabar e sempre continua. Por conta de reviravoltas, falhas, interrupções e tudo que você possa pensar. Muitas vezes se reinventando nessas “continuações”, e sempre entregando algo memorável, apesar de algumas falhas mínimas de continuidade, que no fim talvez só indiquem uma possível continuação com tais pontos omitidos.
Mas antes de olhar os créditos e pensar no que está por vir, melhor olhar a mensagem de fim com uma grande interrogação e ler o texto seguinte. Não acabou após literalmente ter acabado e eu to falando do jogo mesmo, não continuações. Tu zerou mais vai ter de dar load e zerar de novo, pro final verdadeiro. E cara, é nesse momento que Sea of Stars atinge seu ápice.
Até então o jogo parece te dar liberdade. Você pode navegar com o barquinho e revisitar ilhas. Mas ao fazer isso vai ter de passar por locais antigos e enfrentar os mesmos monstros novamente. O que pode demorar e fazer a experiência ser chata. Mas depois desse load pós crédito, aí sim você tá livre pra olhar tudo. Até porque, com as novas side quests, é nesse ponto que tu precisa explorar mesmo os lugares.
Antes disso o game é beeeeeem linear, apesar de você poder revisitar lugares. Parece até bizarro eu falar assim, mas pensa no barco mais como uma transição do ponto A ao ponto B marcado no mapa. Uma transição legal, onde tu pode dar drift com um barco pirata, mas ainda assim algo super guiado.
Eu achei que estava livre em diversos momentos, e em vários deles foi chato tentar ver os locais. Já ao zerar a primeira vez ou perto do endgame, aí sim eu tive prazer nessa tarefa. O transporte ganha um upgrade que ajuda muito nisso. Temos um papagaio que indica o que falta. Um objetivo maior com as side quests. E você vai estar forte, fazendo as lutas extras irem bem mais rápido.
E falando em batalhas, esse é outro ponto forte do game, apesar de muitos terem ressalvas. E falo isso pq vi internet a fora um monte reclamando que era genérico, muito derivativo ou simples demais, de um jeito que não consigo compreender. Pois esse estilo de combate é bem Super Mario RPG, com reações, e tem um sistema de fraquezas para quebrar golpes especiais bem legal. Que faz tudo ser mais interessante do que o sistema por turno tradicional.
Num ponto que até faço a seguinte pergunta. Tu aí que chama de gênero, conhece quantos sistemas parecidos? “Ah, mas mesmo com poucos ainda é igual X ou Y”. Amigo, se a gente ficar nessa de que o jogo é ruim porque parece outro por um detalhe aqui, outro ali. Nenhum jogo vai ser bom e tu vai terminar odiando videogames.
E não falo isso defendendo com unhas e garras Sea of Stars. Eu acho Chrono Trigger melhor. Muitos RPGs são. Sea tem vários pontos que me incomodam, como a falta de liberdade. Mas eu consigo olhar pra ele, acima da minha nostalgia, e analisar de fato o game. E pra mim esses defeitos não fazem o todo ser ruim.
Outro ponto que não gosto, por exemplo, são as comidas. Ao criar um item de recuperação na fogueira tem um tempo de espera e imagens lindas do processo. Mas acho aquilo super lento as vezes e me dá agonia. Preferia ser instantâneo. Já o mini game de Rodas? Ou é muito fácil ou parece roubado. Pescaria? Podia nem existir, por mais que eu não ache ruim. E no fim do dia, esses e outros pontos ao meu ver não estragam nada se colocados lado a lado com o bom do game.
As músicas mesmo são fenomenais, com versões extras pras tavernas, alguns tracks do compositor de Chrono fucking Trigger, e até músicas vindas de The Messenger, outro jogo da Sabotage. O qual inclusive dá pra argumentar como sendo do mesmo universo, se não, no mínimo, tem fortes easter eggs em Sea.
Os chefes são memoráveis, com direito a reação aos seus golpes, onde algumas mudam dependendo do ângulo acertado. E as dos personagem? Nossa, você ali explorando o mundo em pixel art perfeito, escalando, mergulhando, se equilibrando em cordas e afins, faz parecer que tu é um Indiana Jones. É muito prazeroso fazer isso achando os milhares de itens.
Onde alguns inclusive são uma espécie de customização de dificuldade. As relíquias podem fazer a pesca ser super fácil, mostrar status dos inimigos, ajudar na hora das reações ou tornar tudo mais complicado, inserindo uma camada extra de dificuldade. Você faz o jogo ser do jeito que você quer. E eu mesmo usei as de pesca, mas ignorei todo o restante, pois pra mim o jogo estava legal. E não é um demérito fazer isso. Tu ainda vai ser um gamer se ativar essas relíquias, só engolir o orgulho.
E é a soma disso tudo, mais o enredo e principalmente personagens, que fazem desse pra mim um jogo de score perfeito. Sim, falo de erros, mas eu sinceramente não acho que exista algo completamente perfeito, mesmo quando não noto problemas. E ao menos pra mim divertiu o suficiente.
Mas um alerta! Eu só dou essa nota DEPOIS de fazer os extras e o final alternativo. Jogando o game com o primeiro final eu acho bom, mas não chega a ser tão bom pra eu dar um 10 saca.