A um tempo atrás falei que estava meio na onda de ler quadrinhos autobiográficos é nisso acabei por me deparar com um manga cuja a sinopse declarava ser um drama pesado relatando momentos da vida de Hideo Azuma, também conhecido como “pai do lolicon”, em meio ao álcool e a vida de mendigo após deixar para traz tudo o que tinha.
Uma sinopse um tanto quanto mentirosa e ainda assim exata. Talvez tenha sido apenas uma má interpretação de minha parte, mas vamos la. O manga se inicia com uma breve introdução explicando como a vida de Azuma mudou de forma tão drástica.
O autor estava cansado da rotina exaustiva que um mangaka leva e após resolver fazer uma viagem para buscar inspiração resolveu jogar tudo para o alto. Não apenas seu emprego, mas mulher, casa, comida…realmente tudo. Assim o mesmo passa a viver seus dias como mendigo por puro egoísmo e preguiça. Acreditem.
Mas então entra as “mentiras” da sinopse. Logo de início o autor afirma que “Esse manga tem uma visão otimista sobre a vida, sendo assim este foi feito com o máximo possível de realismo removido”. Isto dá para se notar em parte pelo traço utilizado na obra, porém não seria a primeira vez que eu me deparo com algo de traço simples mas dramático, logo ainda continuei lendo com os dizeres da sinopse em mente.


Azuma passa seus dias em uma floresta dormindo coberto com trapos e a noite o mesmo sai para procurar coisas como bitucas de cigarro, licor barato e restos de comida apenas por querer se livrar do stress de sua rotina antiga. O que fico de cara e como o autor realmente leva tudo como se fosse algo bom e isso faz com que a leitura seja prazerosa mesmo que em nossas mentes uma voz incessante continue a repetir “eu nunca gostaria de passar por isso”.
Fiquei com pena de ver ele passando por tais situações e mesmo assim foi a parte mais divertida da obra e me fez levar o ocorrido mais como uma aventura do que um drama. Tanto que quando passei a ler a segunda parte meio que desejei voltar a este mundo de miséria e so tirei esta ideia da cabeça por estar vendo o quanto o autor se sentiu bem ao voltar a trabalhar.
Neste momento de sua vida Azuma mostra como assumiu uma identidade falsa em sua segunda fuga e assim acabou indo trabalhar em uma companhia de reparo de canos em outra cidade. Nesta parte já estamos familiarizados com o principal e nos deparamos com histórias de como eram seus colegas de trabalho.
Nisso o pai do lolicon volta após um tempo para sua esposa e para a rotina que até então não foi muito comentada. Para começar a falar dela o mesmo insere uma piada bem sutil dizendo que iria falar do alcoolismo e o editor interveem dizendo que os leitores querem antes de tudo saber como e a rotina de um mangaka. Detalhe que so agora, após muitas páginas, que o alcoolismo e citado e nem ao menos entra em foco.


Na rotina apresentada nas páginas seguintes nos deparamos com algo que faria você duvidar da profissão mangaka e ir chorar no canto caso este seja seu sonho, sendo que Bakuman nenhum fara você voltar atrás e tentar seguir carreira neste mundo torturante. Podem até dizer que estou exagerando, mas eu preferia a miséria ao que este cara passou.
Viram a onde chegamos? Os momentos iniciais desta obra parecem uma brisa fresca de oceano e passam a ter um significado de liberdade após nos depararmos com as metas e o esforço inimaginável que este homem passou durante anos.
Apesar da rotina chata apresentada somos introduzidos finalmente a sua esposa e podemos ver cronologicamente a carreira do mesmo desde sua estreia até o final da mesma graças ao alcoolismo, uma doença que foi se agravando no mesmo ritmo em que o autor passa a cada vez mais ser reconhecido.
Nisto chegamos a última parte da jornada onde após chegar a níveis extremos de bebedeira o mesmo acaba sendo espancado e por fim internado numa clínica para tratamento. Novos personagens são apresentados mas desta vez com um foco no porque cada um se encontra em tal situação de dependência, além e claro da insuportável rotina capais de fazer alguém até mesmo desejar a morte.


Porém, o que e melhor? Se entregar a uma vida monótona em busca de saúde ou deixar que a doença leve embora os últimos anos que você possui? Nesta última parte todas as questões que levantamos sobre a vida do autor veem à tona e então desejamos fortemente que ele retorne para a misseira sem nem ao menos sabermos o real desejo deste pois e mais agradável de se ver.
Infelizmente esta última parte não está completa pois o autor resolveu interromper o quadrinho por 8 anos sem dar explicações e retornou apenas em 2013 com “O Diário da Depressão”. Nos Estados Unidos apenas a primeira parte foi lançada.
Mesmo assim, sugiro fortemente a leitura, que apesar de ter parte do realismo retirado ainda consegue se mostrar pesada e até mesmo um pouco triste. Não consigo nem imaginar como seria o enredo caso este mostrasse todos os fatos ocorridos.
Texto publicado originalmente em 06/05/2014