O Máscara – Ninguém segura esse!

Em 2019 “O Máskara” momentaneamente voltou a ser o assunto do momento. Jim Carrey novamente se viu em alta, graças a sua participação como Eggman no ótimo filme Sonic The Hedgehog, e boa parte dos fãs lembrou por tabela como o filme O Máskara, de 1994, marcou a carreira do ator. Porem eu achei isso engraçado, pois não se falava tanto de Ace Ventura ou Debi & Lóide, que estrearam no mesmo ano, ou dos três. Não, era O Máscara a todo momento, ao menos nas minhas redes sociais. E por tabela esse assunto ia parar nos HQs.

E isso principalmente na gringa. Se fosse outra época esse não seria o caso, mas hoje em dia com o avanço da internet possibilitando pesquisas e a grande popularização dos quadrinhos como uma mídia mais ampla, acabou que muitos descobriram a existência dos gibis do Máscara. E meu deus, 2019 marcou 30 anos da existência do personagem. Ao menos sua versão mais famosa, a qual influenciou o filme. Logo era um assunto impossivel de escapar.

A Dark Horse lucrou em cima relançando o tão solicitado omnibus da série e se depois disso existisse um fã do filme que não sabia que esse era baseado num HQ, bem, o cara certamente vive embaixo de uma pedra. Relançamento, 30 anos para se comemorar e ator famoso de volta as telas. Ou em outros termos, a hora perfeita de preparar uma thumbnail marota, bolar um click bait e chamar todo mundo para ficar por dentro do assunto. Máscara era um quadrinho relevante novamente.

E como sempre, da gringa isso veio ao Brasil. Alguns vão dizer que copiamos eles de novo, mas ao meu ver foi algo inevitável. O Máscara sempre foi mega popular por aqui, com brinquedos, tazos e o icônico desenho animado, fora o filme em si. Logo o Pipoca & Nanquim caiu na nostalgia e trouxe os anos 80 de volta. Ia rolar cedo ou tarde, e a hora não podia ser mais propicia.

No caso, o que o trio do petardo anunciou foi exatamente o omnibus da Dark Horse. 380 páginas com o creme de lá creme do mascarado mais loco de todos os tempos. O cabeção, ou Big Head se preferir. Uma entidade psicótica que na verdade tem mais de 30 anos e que demorou para ser chamado de O Máskara. Esse sempre foi o objeto, e não o avatar da insanidade que conhecemos.

Na verdade, diria mais. O que conhecemos passa bem longe da origem desse anti-herói.

The Masque e Mayhem – Onde tudo começou.

O personagem O Máscara foi idealizado por Mike Richardson, o criador da própria Dark Horse, que seria a editora onde o personagem viria a ganhar fama. Porem ele não escreveu primeiramente na DH, e sim na independente Apa-5, uma revista que foi publicada durante os anos 70 e 80.

No inicio de tudo, o estranho Masque.

Apa, para contextualização, e a abreviatura de Amateur Press Association, ou Associação de Imprensa Amadora. Uma categorização dada basicamente a revistas que publicavam fanzines. A Apa-5 era apenas mais uma dentre uma imensa leva, e infelizmente pouco do seu material foi resgatado. Mais notoriamente se salvaram algumas histórias de Frank Miller. Já o Máscara ficou no passado, sendo sua participação na revista apenas uma menção.

O personagem então foi resgatado em 1987, já na Dark Horse, mas ainda mantendo o lado fanzineiro. Assim participando das edições de 10 a 21 da primeira Dark Horse Presents, uma revista focada em apresentar histórias curtas. Aqui sobe o nome The Masque, com ênfase no “Q“ que virava um ponto de interrogação (?) para mostrar a natureza misteriosa do personagem.

Fora isso, outras diferenças eram visíveis. O material tinha um grande foco político social, com personagens jogados sem muito pensar, talvez devido ao limite de páginas cedidas. O traço variava entre o clichê e o absurdo, com textos e momentos confusos que talvez se aplicassem melhor a época. E até onde consegui ler o personagem Masque nunca teve uma origem e a máscara jamais foi mencionada como mística.

Em Mayhem, a historia era preto e branca, mas recoloriram para a coletania.

Ainda assim, a natureza mais cartoon se manifestava em alguns desenhos que beiravam ao surreal, com grande destaque a manipulação do ambiente e não nas alterações constantes no corpo do personagem. Outra característica que depois seria mantida e a cor verde na máscara, que foi introduzida na edição 14 da Dark Horse Presents. Mas ganhou outras características marcantes apenas em 1989, quando Chris Warner foi comissionado para criar o visual definitivo do personagem.

Ainda em 89 The Masque seria cedido para a dupla John Arcudi e Doug Mahnke na revista Mayhem, onde o primeiro arco com Stanley Ipkiss como o Máskara seria criado, ainda em preto e branco. Nesse ponto é que muitas características do personagem são definidas, como imortalidade e criar objetos do nada. Mas seu famoso nome ainda não deu as caras, aqui sendo chamado de Big Head (cabeção). Um nome que marcaria o personagem por anos.

O filme e o HQ – O Retorno do Máskara.

Infelizmente Mayhem foi um fracasso, levando a revista ao cancelamento em 4 capítulos. Mas apesar disso a dupla John e Doug receberam a oportunidade de continuar o arco de Ipkiss em 1991, com a minissérie The Mask. Agora sim associando o nome “O Máskara” ao quadrinho, porém não ao personagem. A máscara é um objeto de poder, e quem a usa se torna o Big Head.

Kellaway certamente é um dos personagem mais iconico nos HQs

Esse título, “Cabeção”, foi dado por outro personagem recorrente, o detetive Kellaway. O qual aparece junto de Stanley e a máscara no filme de 1994. Porem as semelhanças param aí. O quadrinho é inegavelmente mais adulto, cheio de humor negro e violência. Existe sim aqueles poderes mais cartoon, mas pense que se ele usar uma dinamite em alguém, tripas vão sair voando. Aqui é tudo mais visceral, mais dark.

Mas isso estamos falando do cabeção apenas, uma entidade insana que abita na máscara e amplifica os desejos do usuário. É um objeto de vingança, luxuria, ganancia… que manipula o seu próprio ser e tenta se apoderar do usuário. Um poder a grande custo, que inclusive pode se comunicar e alterar leves pontos de realidade sem ser vestida. Uma verdadeira maldição.

Quando vamos para outros personagens é bem diferente. O HQ constantemente muda o ponto de vista entre o usuário da máscara e pessoas que acompanham o desenrolar de eventos causados por ele. O grande destaque aqui é justamente ao já mencionado Kellaway, o qual veste cada vez mais o manto de protagonista ao decorrer dos 3 quadrinhos. The Mask, 1991, The Mask Returns, 1993, e The Mask Strikes Back, 1995.

Uma entidade do caos virtualmente imortal

Isso é uma dissonância bem grande entre o filme e os quadrinhos. No longa de Chuck Russell temos um Maskára bem mais voltado a desenhos animados, num filme que constantemente referência suas influencias e que na realidade puxa bem pouco do HQ The Mask. Na verdade, tirando Kellway e a polícia, o filme se baseia muito mais em Mayhem. No começo, no arco de Stanley Ipkiss, o qual por algum motivo virou herói e protagonista dessa famosa comedia.

Digo isso pois se o Ipkiss dos filmes é um fracassado, o dos quadrinhos está no fundo de um poço cavando cada vez mais e buscando a própria cova. Ele é um imbecil, vingativo, psicótico e maníaco por militarismo, entre diversos outros adjetivos que completam um personagem detestável e vil. Ao ponto de que nesse começo, mais que um anti-herói, ele é um vilão completo, ao ponto de quase entrar na categoria de slasher.

Você fica acompanhando ele com o mais puro desejo de que ele perca e sofra com as consequências, enquanto no filme é o completo oposto. Ipkiss é um bobo amável, infantil, que busca se divertir como nunca quando usa a máscara. Ou melhor dizendo, quando se transforma no Máskara. Pois foi nos cinemas que o nome The Mask passou a ser atrelado ao personagem, apesar de não ser ainda utilizado nos HQs.

E para a surpresa de muitos, o Ipkiss cuzão dos quadrinhos aparenta ter uma vida boa e inclusive tem uma namorada. Algo que o personagem do filme nem sonhava. Logo esse cara das HQs é um merda merda mesmo, que sinceramente nem deveria ter ganho um filme. Agora sua namorada, Kathy, essa sim merecia muito mais.

Kathy é outra personagem recorrente que vai cada vez mais se definindo como protagonista, ao ponto de que eu colocaria ela e Kellaway como os principais. Duas pessoas que foram afetadas diretamente pelo Big Head e que buscam solucionar diversos mistérios envolvendo ele, e que tem como objetivo final destruir o artefato.

Logo os HQs seguem como uma espécie de passa, passa. Toda hora alguém perde a máscara, joga fora, morre, e assim vai. Com o Big Head sendo revivido em diversas pessoas, cada uma com desejos diferentes que por vez mudam o personagem. No seu caminho temos Kellaway e a polícia, a teimosa Kathy e o principal antagonista da série, Walter.

Walter é um dos meus vilões favoritos. O mesmo pode ser dito tecnicamente do Máskara.

Os 3 primeiros álbuns foram compilados no primeiro Omnibus, fechando basicamente o arco desses 3 personagens. Existe claramente um final em Strikes Back, e um muito bom por sinal, assim sendo esses capítulos o melhor que a série tem a oferecer. Algo imperdível para qualquer fã de quadrinhos.

Já o filme deu a volta e foi adaptado para quadrinhos em The Mask: Official Movie Adaptation, de 1994. O qual reconta os ocorridos do longa metragem com algumas cenas inéditas e toques na arte que beneficiam o HQ. Essa versão foi feita por Mike Richarson e Kilian Plunkett. Mas não se engane… mesmo tendo o criador original evolvido é so mais uma adaptação, como diz o nome. Fique com a versão dos cinemas e aproveite as trapalhadas de Jim Carrey.

Walter e os desenhos matinais

Mas chega de falar no Máskara e vamos falar um pouco do grande vilão, Walter. Apesar se sua importância nos HQs, esse personagem acabou ficando mais famoso no desenho O Máskara, de 1995. Onde o mesmo foi adaptado da forma mais literal possível. Um brutamontes gigante, superforte que não sente um pingo de dor ou remorso, quase invencível, até para o Máskara. Com o único diferencial sendo o uso deste nos plots e os rios de sangue e tripas que ele proporcionava nos HQs.

Amava as transformações

O Desenho logicamente se baseia bem mais no filme, tomando lá suas liberdades para deixar tudo ainda mais cartoon e elevar o Máskara definitivamente ao status de herói. Ele ainda causa confusão pela cidade, mas nunca mata e sempre termina o dia salvando todos. Com Walter retomando seu papel de capanga, porem agora para o vilão Septimus Pretorius. Um cyborg cientista baseado no famoso doutor de A Noiva de Frankenstein. O que define por vez Walter, apesar de nunca mencionado, como uma espécie de monstro de Frankenstein.

Do filme retornam no desenho o cãozinho Milo, a repórter Peggy Brandt, o bancário Charlie Schumacher e o terapeuta Arthur Neuman. Todos alterados para entrar mais na vibe do show e não ter muita ligação com o longa. Sendo o Kellaway do desenho uma mistura dos 2 detetives, puxando mais para o filme e o deixando como alivio cômico recorrente. Quase que um fim trágico para o protagonista dos quadrinhos, se ele não fosse retornar nos HQs.

E falando em retorno, Walter dá as caras novamente no último trabalho de John e Doug relacionado ao universo do Máskara, com Walter: Campaign Of Terror, em 1995. Aqui a história obviamente se foca em Walter como principal, com Big Head apenas sendo mencionado. Como uma espécie de obsessão.

Isto é, mencionado de forma visual. Walter não fala, nada. O que torna esse tipo de quadrinho complicado e fica a pergunta, mas qual é o plot? A parte do Máskara teve um desfecho e o brutamontes vai voltar a ser um assassino? Não, ele vai ir de vilão a herói, ou melhor dizendo, a um candidato à prefeitura. Sim, um gigante assasasino convicto e pouco inteligente.

O legal aqui é justamente como mudam o foco do personagem. Walter vai ser levado por uma série de personagens, cada um com seus objetivos próprios em uma intriga política suja de arrepiar, onde não existe um lado benigno. Culminando num final surpreendente que promete agradar quem gostou do primeiro omnibus do Máskara. Mas que infelismente vai deixar com gosto de quero mais.

Walter: Campaign Of Terror não está incluso em nenhum dos compilados e marca o final do personagem. Logo se deseja mais dele so resta importar ou buscar o já mencionado desenho para reviver a infância. Se não, opte pela a adaptação do mesmo para quadrinhos em Adventures of The Mask, de 1996.

Quem não ama o classico tornado verde?

Ao contrário da adaptação do filme para HQs, a qual foi uma tremenda bomba, eu enxergo o comic do cartoon como uma opção válida. Vai logicamente adaptar o desenho, o qual é muito diferente do filme e HQ, mas ao menos é algo fácil de se achar. O cartoon? Nem tanto. Tendo como maior problema o fato do material permanescer inedito no Brasil.

The Mask: Official Movie Adaptation e Adventures of the Mask fazem parte do terceiro Omnibus da série, junto das historias exclusivas The Mask: Virtual Surreality, de 1977, “Angry Young Mask”, de 1999, e “No Mask Is an Island”, de 2000. Onde Virtual Surreality funciona como um episódio extra de Adventures of The Mask. Tal qual Word Tour a ideia e colocar o Máskara em diversos mundos da Dark Horse, porém sem interagir com protagonistas, onde cada local então recebe um ilustrador convidado. O restante cabe mais como spin-offs.

Continuando um legado

Com o fim da primeira série e do HQ de Walter, O Máskara retorna em The Mask: The Hunt for Green October, ainda em 1995. Agora com um novo time criativo, Evan Dorkin e Peter Gross, no que determinaria o novo estilo do personagem.

Big Head ainda é um assassino brutal, apesar de suas ações dependerem de quem utiliza a máscara. Com o diferencial de que não estamos mais em Edge City e cada nova história vai ter autores e estilo diferentes, porem sempre mantendo características criadas no “original”, em sua maior parte.

Outro ponto interessante dessa nova leva é que Kellaway continua a aparecer, porem em papeis bem reduzidos. Kathy e Walter não aparecem mais, na maior parte, e todos os demais personagens são novos e nunca reprisam de uma história a outra. Nem mesmo as organizações ancestrais que conhecem o poder do artefato, um dos pontos mais legais desse enredo.

E se você seguir daqui para The Mask: Southern Discomfort, de 1996, talvez um pequeno detalhe fique confuso. Como a máscara mudou de mãos? Da primeira parte para Green October temos uma transição bem clara por meio de um Flashback, mas depois esse detalhe vai ficando cada vez mais vago.

Nesse caso a culpa é de algo que poucos leriam. The Mask: World Tour da dupla Robert Loren Fleming e Gary Erskine, também de 1995. Um grande crossover pelos quadrinhos da Dark Horse, onde o Máskara viaja por dimensões e em certo ponto até mesmo domina uma dessas. Um evento encapsulado em minissérie que é contado como spin-off, mas que na verdade faz parte da cronologia principal, estando entre Green October e Souther Discomfort. E é lá que temos o detalhe de como a máscara foi passada.

Acho isso legal, pois dentro dos poderes absurdos do personagem isso acaba se tornando tremendamente plausível. Além deu achar o máximo essa atenção nos detalhes, tirando a transição entre Southern e The Mask: Toys in the Attic, de 1998, a última história da linha central por um bom tempo.

Sabe, Green October é bem legal, World Tour tem seus momentos, mas eu não consigo gostar de Southern Discomfort. A história de Rich Hedden e Goran Delic e sem dúvidas a mais fraca, e apesar de levar em conta a conexão com World Tour, termina de uma forma que não se conecta com Toys e também deixa detalhes ao vento que nem ao menos fazem sentindo. Definitivamente a pior.

Alguns dos melhores!

O que é uma pena, pois Toys in the Attic talvez seja a melhor de todas dessa segunda leva. A forma como a máscara é encontrada é muito bem colocada, e tirando esse detalhe de transição, temos aqui uma ótima trama que envolve mistério e assassinato no mais puro suspense, assim colocando Big Head e a máscara numa situação inédita e bem divertida.

The Hunt for Green October, World Tour, Southern Discomfort e Toys in the Attic fazem parte do segundo omnibus, junto do spin-off “Night of the Return of the Living Ipkiss… Kinda”, de 1996.

Terminando a linha principal temos o recente The Mask: I Pledge Allegiance to the Mask, de 2019. Ainda sem estar em compilados, o quadrinho segue a mesma ideia de Walter: Campaing of Carnage. Afinal, porque não fazer um HQ ainda mais político, tal qual foi Masque, onde agora o próprio Big Head é um candidato?

Por trás desse álbum temos a dupla Christopher Cantwell e Patric Reynolds, os quais trazem o anti-herói para a atualidade, transformando essa na história mais visceral e impactante do personagem. Anos se passam, time skip, um político obtém a máscara e agora cabe a Kellaway e Kathy mais uma vez tentarem se livrar do objeto amaldiçoado.

É cada maluco…

Ver os personagens novamente é algo muito legal e que motiva a leitura dos antigos fãs. Mas o objetivo real é mostrar como todos os presentes são uma escoria e como os estados unidos, e porque não o mundo, vem decaindo. Uma alegação extremamente clara de como a burrice vem dominando e ganhando. Uma máxima perfeitamente colocada pela frase de efeito da campanha do Big Head. “Vão todos se fuder!”. Rios de aplauso e mais um genocida no topo.

O quadrinho diz de forma sarcástica como o ser humano ainda está atrasado e como a maioria so quer escutar aquilo que diz respeito ao próprio umbigo, mesmo que parcialmente. Pra que reforçar fronteiras se você pode expulsar imigrantes? Tem sim lá sua propaganda anti trump, mas é no todo um não ao fascismo e demais mentalidades perigosas. Pra isso os outores colocam Big Head como o avatar de tudo que é ruim, finalmente deferindo a máxima de que ele é e sempre foi um vilão.

Os demais personagens também são muito bem escritos, salve aqueles mais de fundo. Todos são humanos e tem seus defeitos bem aparentes. Se não estão idolatrando o maioral verde, estão planejando vencelo a todo custo. Sejá para tentar destruir mais uma vez o artefato, para poder se eleger, para obter poderes ou simplesmente pelo prazer da anarquia.

Vão todos se fuder! E viva a america.

E então as cortinas se fecham com tudo terminando da forma mais americana possível. Desejos, violência, explosões e a estátua da liberdade. Todos saúdem a américa. “Vão todos se fuder!” E assim acaba uma das melhores histórias da série. Algo totalmente imperdível e que fecha, por enquanto, com chave de ouro.

Crossovers e Spin-offs

Ok, e agora, por onde continuar? Ainda tem outro material relevante do Máskara? E a resposta é sim. Como dito no texto existem crossovers, ou seja, historias com outros personagens, mundos ou artistas convidados, e temos também os spin-offs, que são histórias mais elaboradas no mesmo universo, mas que não se encaixam na linha central.

Falando primeiramente dos Spin-Offs, o já mencionado Walter: Campaign of Terror sem dúvida a melhor trabalhada e mais relevante numa leitura geral, ao ponto de que eu colocaria como obrigatória após ler o primeiro omnibus. Por mais que Walter tenha desaparecido das HQs. Se é que está cabe de fato como spin-off, uma vez que I Pleadge Allegiance faz menção a Walter tentar virar prefeito.

Walter não perdoa

Ao meu ver, Campaign of Terror cabe mais como uma leitura na linha central, mesmo que o Máskara não se envolva. Já no caso do one-shot “Night of the Return of the Living Ipkiss… Kinda”, ele é 100% algo único. Um micro conto de comedia, fora de qualquer coisa, que vale ler sem saber nada apenas pelo impacto. Exeto o ponto mais importante de todos! Não leia antes de acabar o primeiro omnibus.

Entrando agora no terceiro omnibus, temos “Angry Young Mask”, uma história mais infantil com uma narrativa que lembra clássicos como Calvin e Haroldo e coloca de forma interessante uma limitação aos poderes da máscara. E num viés similar a máscara e novamente explicada em “No Mask Is an Island”, aqui deixando claro como seus poderes afetam cada indivíduo que a coloca, sendo um dos textos mais interessantes.

Essas 2 micro historias no fim são o que fazem o terceiro omnibus valer a pena, junto de Virtual Surreality. É algo muito divertido e agradável, mas que talvez so valha o custo para os fãs mais árduos da franquia ou quem busque relembrar o desenho, pois Adventures of the Mask constitui 90% do conteúdo dessa coletânea.

Eu assistiria várias temporadas desse desenho matinal

E falando de algo infantil e bem cartoon, temos Itty Bitty Comics The Mask, de 2004, o ultimo spin-off em quadrinhos. Nele não temos ninguém das outras obras, apenas a máscara, e tudo é colocado de forma bem similar aos antigos desenhos da Cartoon Network. Apesar de ser para crianças, gostei muito dessa versão do personagem e adoraria ter visto algo assim quando pequeno.

Quanto ao filme Son of the Mask, de 2005, o qual é colocado como sequência do primeiro longa, bem… é melhor ignorar esse e aceitar como um péssimo spin-off. Existe uma quebra de continuidade aqui. Um personagem que morreu volta e Jim Carry recusa o papel, resultando na troca de Ipkiss por outro personagem, Tim Avery. Se não bastasse isso parte do plot e que o Máskara, a entidade, tem um filho com poderes similares. Isso deixa tudo mais infantil e bem bobo. Sendo um dos filmes mais insuportáveis que já vi.

Os únicos pontos que se mantem de um filme a outro são o doutor Arthur Neuman e a ideia de a máscara ter pertencido ao deus nórdico Loki, o qual agora aparece como antagonista. E tirando isso, um ponto do desenho acabou entrando no longa. O cachorro Máskara! Sempre achei a ideia de Milo como o Máskara bem legal, apesar de não ser ele no filme, e sim o exato mesmo cão agora com nome de Otis. Porem acho que nem isso faça valer a pena assistir ao filme.

Caindo para o lado dos crossovers, o Máskara sempre foi um personagem propicio a isso devido a sua leva de poderes absurdos. Tudo começa lá no World Tour. E se esse não está indo entre dimensões, ao menos aparece desenhado por outros ilustradores ou homenageado de alguma forma, como foi o caso em Virtual Surreality.

E tirando Dark Horse, o personagem apareceu bastante nos quadrinhos da DC Comics, começando com Grifter and the Mask, de 1996, por Steven Seagle e Luciano Lima. Nessa confusa história o personagem Grifter dos Wildcats vai a Las Vegas em busca de um item numa convenção de armas e no meio disso um dos turistas aparece usando a máscara.

Existe uma tentativa de mostrar uma mensagem política sobre o quanto armas são ruins, misturado com um desdém por Las Vegas e outros detalhes menores que é muito malfeita, e so serve para apresentar um quadrinho totalmente pulavel. Boa tentativa, péssima execução e alto risco de captarem errado o texto.

Na sequência veio Lobo/Mask, em 1997, trazendo de volta o time original de John e Doug, agora com Alan Grant, dos escritores de Lobo, ajudando no roteiro. E com um time desses, o que poderia se esperar? Nada mais do que o crossover do século! Parece exagero, mas eu tenho de botar hype nisso aqui. Lobo e Máskara combinam demais e o resultado é um HQ foda pra caralho!!!

Essa história em 2 partes básicamente. Não dois capítulos, mas pontos bem distintos. Começa com o que pode ser descrito como uma das mais malucas e criativas lutas que eu já, com uma segunda parte ainda mais cheia de ação e um plot de fritar cabeças. Eu genuinamente ri com esse mais que qualquer outra história do Máskara.

E falando em rir, o ultimo crossover DC, Joker/Mask, de 2000, também é muito bom! O trio Henry Gilroy, Ronnie del Carmen e Ramon F. Bachs deixaram a máscara cair na mão da pessoa mais insana de Gotham, o Coringa! E a insanidade do príncipe das risadas com a insanidade do cabeção verde so poderia gerar uma história mega divertida.

Sendo esse o crossover mais famoso com o Máscara, o enredo se estende ao tamanho normal das minisséries do anti-herói, e se foca exclusivamente em Coringa e Arlequiquina, puxando bastante para o estilo de Batman: The Animated series. E fazendo jus por ser uma história tão exaltada.

Coringa tem estilo!

Os 3 crossovers da DC foram coletados em Dark Horse Comics / DC Comics Crossovers: The Mask, porem com a ordem alterada para Joker/Mask, Grifter and the Mask e Lobo/Mask. E tirando esses, por fim temos o único, mais longo e ultimo crossover da Dark Horse, chamado The Mask/Marshal Law, de 1998.

Eu particularmente gosto da narrativa de Mask/Marshal, mas no geral é algo pulavel para fãs do Máskara, pois segue a timeline de Marshal Law e vai conter alguns spoilers da outra série, sendo uma espécie de ultimo capitulo não oficial do assassino de heróis. Com destaque a um visual que novamente baira ao caos completo.

No resto, o Máskara, ou melhor dizendo, o Big Head, costuma aparecer homenageado por outros autores, como foi na capa de Ghost #7, de 1998, ou mais notoriamente no art book Dark Horse: Twenty Years, de 2006. Se não como parte de algum material de propaganda. Afinal é um personagem do criador da editora Dark Horse. Sendo talvez o único material relevante nesse viés suas aparições no San Diego Comic Comics, de 1992, 1994 e 1995. Um material que recomendaria so para curiosos ou os fãs mais hardcore.

Sempre tem os “extras” para mega fãs

Conclusão

Máskara acabou para mim em 2 ocasiões. No final do primeiro omnibus em Strikes Back, e em I Pledge. Logo minha sugestão é ler a coletânea inicial e ver se gosta, desconsiderando por completo sua opinião sobre o filme e o desenho. Curtiu? Então você vai gostar tbm de Walter e Lobo/Mask. Sendo esse o mínimo para se ler, caso queira manter nos autores originais.

Se quiser seguir acima disso, eu recomendo sim o segundo omnibus e I pleadge, mas passando desses apenas Joker/Mask se mostra algo essencial. Itty Bitty e Adventures é legal para os mais novos, com todo o resto entrando mais em curiosidades ou indo direto ao poço. Portanto não acho que valha tentar consumir tudo.

Mas se ainda assim tiver interesse, leia meus comentários sobre cada um e filtre bem esse conteúdo para não se arrepender depois. The Mask é muito bom, mas chegar no extremo que eu cheguei para fazer esse texto não compensa.

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