Resenha: Fragmentos do Horror

Atenção: As imagens do post não refletem a qualidade Darkside. Vou troca-las posteriormente. Apenas tive um problema com minha câmera na hora das fotos.

Antes de começarmos, gostaria de agradecer a DarkSide Books por ter nos enviado o Fragmentos do Horror, uma coletânea de one-shots do mestre do terror Junji Ito. Sem dúvida um dos meus autores prediletos dentro do gênero, possuidor de um estilo único, tanto de narrativa como ilustração.

E também gostaria de encaminhar você leitor ao vídeo de unboxing que fizemos no canal, onde falo um pouco mais da arte do autor exemplificando bem com o material em mãos, além é claro de mencionar pontos específicos do acabamento da edição. E já deixa dito, DarkSide mais uma vez impressiona nesse quesito. Para ir ao vídeo basta clicar aqui.

Enfim, agora referente a esse texto, por ser uma coletânea de histórias sem ligação iremos resenhar aqui cada uma separadamente, evitando spoilers, o que talvez torne uma ou outra um tanto quanto resumida. E ao termino das análises concluiremos falando da obra como um todo. Dito isso, vamos ao primeiro one-shot.

Futon

Essa primeira história pode ser dita como uma introdução não apenas a coletânea como ao estilo do autor, exemplificando bem aos marujos de primeira viagem certos trejeitos que ele coloca em seus títulos, como por exemplo o lado cômico ou tenebroso das feições e o grotesco bizarro com toques demonicos, mais voltado ao yokai, e partes que remetem a insetos que vemos em suas ilustrações.

Mas tirando isso não temos um enredo realmente promissor. Nada aqui é previsível, porem o espaço que ele recebe para criar a história e muito curto, deixando assim o leitor insaciado e culminando num final insatisfatório. Não sobra nem mesmo espaço para que eu possa dar uma sinopse sem spoilers.

Diria que Futon so vale pela arte e para apresentar os não iniciado ao Junji Ito Horror.

Monstro de Madeira

Se Futon exemplifica os trejeitos mais comuns do autor, diria que Monstro da Madeira apresenta alguns pontos incomuns, mostrando assim a outra face de Junji Ito e seu dinamismo na hora de se criar enredos.

No começo temos apenas uma velha casa, perfeita para seu típico cenário mal-assombrado. Porém não entramos em clichês aqui. Boa parte deste one-shot apenas apresenta personagens em situações corriqueiras, as quais provavelmente fogem do nosso cotidiano, mas que aparentam ser comuns a eles, com exceção do recém ganho status de patrimônio cultural, dado a casa, e uma inesperada e inconveniente arquiteta.

Páginas vão e vem é então observamos aos poucos um Q de erotismo, não apelativo, que beira mais ao fetiche. So que aí que vem o pega. Da onde e porque surge tal excitação? E por fim entramos no que é chamado de vale da estranheza. Não um local dentro da obra, mas um termo utilizado para classificar aquilo que foge do habitual e que por si só causa medo.

Basicamente temos aqui uma história que escalona cada vez mais, passando pelo cotidiano, o incomum e o tal vale da estranheza, até chegar no absurdo, evoluir para o grotesco e culminar num ambiente literalmente demoníaco. Interessante, divertida em certos pontos, mas que novamente deixa uma sensação de que poderia ter um maior enredo.

Tomio – Gola Rulê Vermelha

Tomio é o astro, ele está na capa, e não é para menos. Diria que o enredo desta sozinha já seria o suficiente para eu comprar a coletânea. Pois enquanto Futon é esquecível e Monstro da Madeira se mostra um one-shot mais interessante do que divertido, aqui temos um material que faz juz absoluto a qualidade do mestre Junji ito.

Este é um conto de horror com um fundo de fabula, pois diria que dá para se tirar uma lição disso. No enredo um casal se consulta com uma cigana que afirma que o relacionamento terá um fim próximo, e teve, com o jovem traindo sua mulher com aquele que previu a separação.

Uma virada de eventos não muito impactante, mas que nos leva ao plot central com uma maldição para aquele que traiu. E a partir daí amigo, e agonia após agonia. Não teria graça revelar o porquê, mas acreditem quando digo que Tomio – Gola Rulê Vermelha se lê com uma mão no peito e outra na cabeça. Simplesmente aterrorizante.

Suave Adeus

Depois de Tomio a qualidade da coletânea não decai, e logo observamos isso com Suave Adeus. Uma história sobre morte, família e muito drama, mas não diria que terror em si, apesar do sobrenatural.

Este one-shot conta como uma garota se casou, foi morar na casa de uma família tradicional e acabou descobrindo o segredo deles. Após a morte de um ente os Takamura fazem um ritual de reza que cria a chamado Imagem Residual. Não são fantasmas, mas não se sabe se são ilusões, memorias ou mesmo quem está vivo ou morto dentro daquela casa.

Assim acompanhamos esse cotidiano estranho em mais uma curta história, com drama, reviravoltas e um enredo fantástico que poderia ser expandido, assim como muitos outros one-shots dessa coletânea.

Dissecação-Chan

Essa em minha opinião é a que teve um melhor fechamento, não deixando absolutamente nada em aberto e sempre mantendo o foco em um único ponto. Mania, fetiche, perseguição e diria que até amor cego. Elementos que fazem deste one-shot intrigante e perturbador.

O enredo obviamente gira em torno de dissecação e de uma mulher, como podem ver pelo sufixo chan no nome. Tudo é um pouco mais complicado do que a forma como vou descrever, mas basicamente uma mulher invade uma sala de dissecação e pede para ser dissecada, e assim se repete em diversos momentos do HQ, levando o outro principal, um doutor, a lembrar momentos de seu passado.

Sem dúvida a mais pesada graficamente dentre as histórias da coletânea, ilustrando bem e combinando aquilo que já mencionei em Futon e Monstro da Madeira. Grotesco e erotismo lado a lado. Ero-Guro. E ainda assim, possivelmente o conto mais leve dentro do gênero.

Pássaro Negro

Se Dissecação-chan é a mais grotesca e Tomio a mais agoniante, então Passaro Negro sem dúvida e a mais aterrorizante e perturbadora. Aqui sim temos terror com um monstro de verdade, de trejeitos humanos, mas que possui características animalescas e demoníacas, além de poderes sobrenaturais devastadores. Um ser sem dúvida guiado pelo simples prazer de tornar sua vida miserável.

No one-shot acompanhamos dois homens, um resgatado e o outro aquele que o encontrou caído numa trilha de montanha. Kume, aquele que resgatou, apenas observa e relata boa parte, enquanto Moriguchi, o resgatado, e o centro de diversos mistérios que giram em torno dele e de uma terrível entidade meio corvo, meio mulher, quase harpia, que o alimenta com uma carne misteriosa. Literalmente de embrulhar o estomago.

Eu adoro essa história, como devem ter percebido. Ela tem aquele toque característico de estranheza, a utilização da figura feminina como algo erótico, misterioso, mas acima de tudo apavorante, além de muitas cenas e pontos chocantes. Sem dúvida esta é a que possui o melhor e mais bem bolado plot twist. Imperdível!

Magami Nanakuse

Esses sem dúvida é o mais estranho. Espera, eu já disse isso de outro one-shot? Possivelmente. São todos muitos fora do normal, mas nenhum é estranho como este, pois o que temos aqui e em parte uma comedia sobre tiques, pessoas famosas e aqueles obcecados por elas.

No enredo uma jovem busca ser escritora, se inspirando em, obviamente, Magami Nanakuse. E apesar de nunca ter passado nada para o papel enviou um pedido a autora para que sua obra fosse avaliada, e por algum milagre, ou maldição, ela recebeu a oportunidade de se encontrar com seu ídolo numa pequena vila do interior do Japão.

Chegando lá tudo é o contrário do que ela imaginou, para pior. São situações hilárias, mas ao mesmo tempo devastadoras, e que acabam incomodando. Fora que não se engane quando digo que é uma comedia, pois ainda temos uma boa dose de grotesco e uma surpresa aqui e ali.

A Mulher que Sussurra

E terminando a coletânea temos uma história mais pé no chão, ou ao menos eu consigo enxergar esta como algo que realmente poderia vir a ocorrer, que não está tão inserida no vale da estranheza, tirando é claro a peculiar doença da principal e o twist no final.

A Mulher que Sussurra conta como uma jovem incapaz de tomar decisões por conta de uma doença mental acaba passando por várias babás, até encontrar uma moça que lhe sussurra tudo que precisa ouvir detalhadamente e que se dedica de maneira obcecada ao trabalho.

O legal deste não é o terror, pois eu diria que não existe. E sim a interação entre os 3 personagens, o que inclui o pai da principal, e como cada um lida com a doença, além dos mistérios que e incertezas que surgem com a vinda da nova cuidadora. É praticamente um drama o que temos aqui, que poderia evoluir para algo ainda maior, mas que ainda assim termina de maneira impecável.

Conclusão

Eu sempre acho estranho escrever conclusão ao final de uma resenha, então digamos que a separação caiu como uma luva nessa análise de Fragmentos do Horror. Haha. Digo isso pois estranheza, como já devem ter notado, e a palavra chave que une cada uma dessas obras.

E tudo muito bizarro, grotesco, fora do comum, e ainda que não assuste gera intriga e nos faz querer mais. Este é Junji Ito, mais que um mestre do horror um narrador fenomenal, roteirista de primeira e ilustrador de mão cheia, capaz de unir o comum ao sobrenatural como ninguém.

Ou seja, eu estou me rendendo a maestria do autor e afirmando que Fragmentos do Horror e imperdível. Tudo aqui, com exceção de Futon e 2 infelizes erros de digitação, “Sussuro” e “omento”, e perfeito. O trabalho da Darkside e quase que impecável. E se dúvida, olha aí o nosso unboxing para tirar qualquer dúvida.

Texto publicado originalmente em 24/08/2017

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