Resenha: Dragon Head

Esse é um daqueles títulos em que fico realmente sem saber se recomendo ou não, mesmo tendo gostado. Pois a conclusão e as reviravoltas contidas na obra são daquelas que vão cair no gosto de uns e serem odiadas eternamente por outros, fora alguns fatores que simplesmente devem afastar leitores independentemente do entusiasmo.

Dragon Head começa de maneira clichê, apresentando um cenário inusitado, mas não diferente de outros utilizados em histórias de sobrevivência. Um trem bala descarrilha durante uma viagem escolar, deixando um mar de corpos e 3 sobreviventes, os quais agora devem tentar se manter vivos num túnel parcialmente desabado.

Os recursos são escassos, todos os seus conhecidos estão mortos, não se sabe o que ocorreu e a escuridão toma conta do local. Um enredo lento, que lhe faz parar e pensar como isso não foi cancelado, para então mostrar aos poucos os valores da obra e entrar num suspense de tirar o folego.

Inicialmente o tom monótono cai bem para exemplificar que não existe muito o que fazer, sendo uma leitura até que rápida, de poucos diálogos, que vagarosamente introduz cada personagem, no fim culminando no verdadeiro terror ali presente. A escuridão.

Mas o que seriam essas trevas? Na mente dos personagens isso é um monstro, sem forma, um Cthulhu se preferir, que afeta a psique de cada personagem de maneira diferente e que distorce o mundo ao redor deles, mas sem jamais levar o leitor nessa jornada macabra, ao menos não de forma tão intensa como eles.

Aos poucos os perigos se ampliam. Calor, falta de ar, desabamentos, inundação, loucura. Algo que leva a um clímax intenso, mas não ao fim do título, e sim a uma remodelação.

Peço desculpas a quem considera isso spoiler, mas é inevitável mencionar que tudo muda a partir do volume 3. Logo se deseja manter a surpresa, pare de ler a resenha. Ignore que tem outras imagens abaixo e vá atrás do mangá imediatamente, voltando aqui apenas após a conclusão.

Como dizia, no volume 3, Tero e Ako, os dois protagonistas, conseguem escapar do túnel e se veem numa estação de água abandonada. Um ambiente desolado, onde o maior destaque vai para o céu negro.

Nesse momento se perde a noção do tempo, impossibilitando de se afirmar se é dia ou noite, reforçando a ideia de que existe um monstro, mas acrescendo outras, como terremoto, vulcões, guerra, bombas ou acidentes nucleares, tsunamis, tornados, mundos paralelos, abertura dos portões do inferno, fim do mundo, entre outros.

Ainda assim a obra não se torna de terror, mas mantem um suspense constante. Aos poucos o autor vai dando mais ênfase em cada uma dessas hipóteses, descartando ou colocando elas de lado, mas sem jamais revelar o que ocorreu ao Japão, e talvez o mundo, até o final.

Dessa forma se cria uma linha constante de sagas de desastre, algo que poderia vir a ser irritante, mas que renova o enredo constantemente, cada vez escalonando mais, e, portanto, novamente reforçando as teorias. Deixando o leitor e os personagens paranoicos.

Ao mesmo tempo vínculos são criados. Você não apenas passa a gostar de cada personagem, como os odeia e fixa a mente características a princípio inúteis, como um close num tênis ou num gestual. O primeiro serve para mostrar que eles são humanos e que estão sendo afetados pelo ocorrido, enquanto o posterior, que a princípio parece uma jogada do autor para não desenhar rostos, se mostra um recurso narrativo imprescindível.

Ele usa desse close inoportuno para dar foco em certos movimentos e atitudes, além de tentar causar confusão no leitor, reforçando o suspense e exigindo maior atenção. No fim esses detalhes estão tão fixados em nossa mente que uma das mortes mais impactante se dá exatamente por mostrar 3 detalhes. Não tem sangue, foi algo off-screen, e ainda assim o terror da perda é real.

E falando em medo, esse se torna um dos, se não o ponto central da obra com o tempo, juntamente da questão da humanidade, estar sozinho e catástrofes naturais. Mas ainda assim o desconhecido, e principalmente as sombras, são os que causam maior impacto.

O autor se utiliza de silhuetas diversas vezes para representar morte, perigo ou ilusão, da mesma forma que faz com diálogos vindos do nada, sem foco num objeto ou gestual. Assim ele cria um ambiente onde aparentemente apenas os principais existem, mesmo que outros humanos realmente estejam presentes na obra, em parte demonstrando a forma como eles enxergam a situação.

E voltando mais uma vez na questão das trevas, o volume 7 certamente e estopim para o leitor. Você viu perseguições, cenas de ação, desastres naturais e alguns eventos bem estranhos, mas era algo divertido. O volume 7 não. Eu juro que nunca li nada mais agoniante em toda a minha vida. Me senti desesperado, numa escuridão vasta, claustrofóbica. Um desconhecido avassalador que sugava de mim toda minha energia.

A partir desse ponto os diálogos intensificam bastante e surge um mar de questionamentos e filosofia que se mantem até o final, deixando pontos em aberto para livre interpretação, mas ainda assim mostrando algo satisfatório, ao menos em minha opinião.

Existem 4 pontos que consigo ver como o final da obra para muitos leitores. O volume 3 onde estes saem do metro, mudando realmente tudo, o volume 5 onde o foco desvia bastante do Teru por um bom tempo, o volume 7, que como já disse é sufocante, e do volume 8 para cima, onde Teru se torna o centro das atenções por completo.

Não vou entrar em muitos detalhes do porquê mencionei cada um destes volumes, para não dar spoilers, mas basicamente todos são pontos de reviravoltas extremamente drásticas. E se passar de tudo isso, o final também pode vir a desagradar muito por deixar diversas coisas em aberto, como mencionei anteriormente.

No geral Dragon Head não é nenhuma obra de arte, muda bastante, mas é divertido e abriga alguns dos meus momentos favoritos se tratando de mangás, além de um que eu quero esquecer com todas as forças de meu corpo, mesmo sabendo que é uma parte completamente genial.

Texto publicado originalmente em 11/05/2017

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