Primeiras Impressões: The Dregs – A Sarjeta de Vancouver

Eu pretendia começar esse texto brincando com o que as pessoas poderiam entender pelo título da obra, citando RuPaul’s Drag Race e perguntando se alguém conhece uma HQ que aborde drag queens de um ângulo mais dramático, talvez com uma pegada meio Hourou Musuko.

Porem eu não estava preparado para as primeiras páginas, e resolvi tomar um tom mais sério e costumeiro na análise. Primeiramente pela capa notamos que algo de ruim vai ocorrer, devido ao sangue no prato, e logo associamos a uma cena característica de canibalismo. Algo a muito enraizado em nossa mente devido a Trilogia Hannibal e outros títulos que fazem referência ao psicopata mais famoso de todos os tempos.

O quadrinho poderia muito bem começar apresentando The Dregs, não ele próprio mas uma região a princípio abandonada pelo governo e entregue a pessoas de baixa renda, mendigos e traficantes. Um ponto de drogas e miséria similar a Cracolândia e tantos outros, não fosse empresas tentando apostar na revitalização do local.

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Logo temos duas frentes completamente opostas entrando em conflito. De um lado temos a depravação de Dregs, cada vez mais consolidada pelos próprios habitantes, e do outro empresas colocando prédios a baixo e desapossando a classe baixa. O que gera um embate interessante na mente do leitor sobre a quem deve “apoiar”.

Seria você a favor de um recomeço para a comunidade ou acha que isso na verdade se trata de uma invasão? Um enredo interessante, mas não o foco central. Lhes apresento Arnold, um morador de rua e dependente químico de idade avançada, o qual nunca saiu do Dregs, em parte por ser sua casa e em parte por não querer se livrar do vício.

Mas veja bem, quando me refiro ao local ser sua morada é porque sempre foi. Ele nasceu no Dregs, noutra época, onde as lojas não eram roubadas e prédios não se encontravam em risco de sucumbir. Arnold e nosso guia, um avatar que nos permite enxergar o presente, o passado e relances psicodélicos providos por narcóticos.

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E ainda assim, nossa jornada não se encontra literalmente no que foi, é ou pode ser a região, e sim nos podres que ninguém nota. Conspirações, máfia e mortes que ocorrem nas sombras. Na sarjeta da sarjeta. Longe de todos os olhares, e ainda assim embaixo do próprio nariz.

Nisso voltamos ao começo. Pobre Manny. Tão pobre que em meio a sua conclusão se encontra em êxtase. Não importa o sequestro, o açougue, a caneta que lentamente delineia se corpo nu e desprovido de cabelo e dentes. So importa a seringa e seu conteúdo alucinógeno. Mas não se engane, não se trata de visões. Decapitação, desmembramento, destranhamento. Muito menos a fabricação de linguiça e o aglomerado de pessoas ricas que se reúne no La Mancha. (Por pedido da editora não posso mostrar essa sequencia)

Manny, no sentido atribuído a pronuncia do nome, viraram iguaria para porcos capitalistas. E com o seu sumiço vem a paranoia, ou melhor, ela se espalha. Veja bem, Manny enxergava iluminate até na sola do próprio pé, e quando alguém some temos de retraçar os seus passos. Logo 1+3 = aja feito um maluco e observe seus arredores com atenção. Uma interpretação obvia para aqueles que viajam dia e noite.

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Assim Arnold encara a mente deturpada de seu amigo como própria e se vê numa jornada de tentar provar um assassinato que deveria permanecer oculto, se provendo de entorpecentes e indo por caminhos tortos, esbarrando em mais do que deveria, até ser notado por razões que nada tem a ver com a busca. Uma jornada sem rumo, mas com caminhos certos traçados pelo próprio destino.

Basicamente The Dregs apresenta uma história de mistério e suspense, com pitadas e terror e uma crítica social forte, característica da Black Mask. Sem dúvida algo para ficar de olho e devorar, quero dizer, desde que a vítima não termine sendo o principal.

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O enredo fica por conta de Zac Thompson e Lonnie Nadler, dois cineastas que tentam trazer um pouco do cinema para os HQs, como podemos ver na narrativa, enquanto a arte se encontra nas mãos de Eric Zawadzki, um ilustrador fenomenal que traz um estilo vibrante, detalhado e cru para as ruelas de Dregs.

Lançado dia 25/01, a editora promete finalizar a mini-serie com 4 edições, porém ainda não temos notícias de quando esta recebera uma versão digital. Portanto se curtiu a obra resta ficar de olho na loja da BM ou importar. E se for como eu, permanecer torcendo por uma versão nacional.

Texto publicado originalmente em 28/01/2017

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