Corpse Knight Gunther (Sichegisa Gunther) é um daqueles manhwas que fico completamente sem saber que nota dar, e em parte em como escrever esse review. Uma obra que foge completamente dos clichês de manhwas modernos, trazendo uma arte alternativa bem impactante e certa semelhança com Berserk, o clássico de Kentaro Miura.
No enredo o mundo está infestado por vampiros, e tudo começa em tempos bem avançados nessa crise. A humanidade se vê à beira da extinção, e para ter uma chance de vitória é iniciado o projeto do Corpse Knight, ou cavaleiro cadáver. A ressurreição de um famoso gladiador, invicto em milhares de batalhas, para ser a última esperança da humanidade.
Este, nosso heroi morto vivo, é Gunther. Um homem maldoso, mesquinho, irritante e sem objetivos, que fará tudo pela própria sobrevivência. O ápice do narcisismo, surgido de uma situação extrema onde não agir de tal forma seria um pecado. A si mesmo, ao público, aos seus “donos”. E agora ele volta, mais livre do que antes, mas sob essa premissa auto imposta de ter de salvar a todos os humanos, sendo ele próprio agora um monstro.
E eu poderia dizer com essa premissa que existe uma dose saudável de inspiração em Drácula e Frankenstein, mas estaria mentindo. Os vampiros possuem aspectos bem mais modernos, onde um só seria capaz de trazer a ruína de uma grande cidade. Enquanto o cavaleiro é quase um cyborg em seu jeito de lutar, podendo alterar partes do corpo para um melhor desempenho. Certo dia pode ter existido um resquício dos clássicos na ideia inicial, mas isso logo sumiu de cena.
O que fica mais visível é justamente a inspiração em Berserk. Gunther e Guts são bastante parecidos. Talvez não em personalidade, mas em como os seus destinos se deram. Um passado trágico que muitos não aguentariam, e eventualmente uma jornada mais heroica, com muitos altos e baixos, e no fim um pequeno romance e salvação. Não do mundo, mas deles mesmos. De suas almas. O crescimento, ou mudança se preferir, na mentalidade de um adulto.
Além disso, todo o clima mais dark fantasy e monstros de design assustador, incluindo o próprio Gunther, nos fazem remeter um pouco ao mundo de Berserk. E o design mais humano do cavaleiro puxa um tanto para o de Guts. Uma verdadeira homenagem. E coloco assim, pois por mais que tantos detalhes se cruzem, Corpse Knight é sua própria obra, sem ser derivativa. São apenas pontos que olhamos é “ah, nossa, me lembrou daquilo”. Mas analisando a fundo, ainda são muito diferentes, se é que dá para entender.
Tudo isso, mais a constante lembrança de como os humanos podem ser diabólicos, muitas vezes fazendo os vampiros parecerem bonzinhos, e as lutas tensas e dramáticas, que fazem a história ser tão boa e prende o leitor do início ao fim. E mesmo assim, mesmo com um bom enredo, e um principal ótimo, ainda me vejo com o problema de que nota dar.
Sei que notas são inúteis e muito pessoais, mas siga comigo. Eu poderia começar listando todos os prós, e talvez o fato de não ter elementos saturados como janela de status, torres, portais, outros mundos, e todo restante dos lit RPGs e Isekais. Quem sabe assim eu não tiro uma média e subtratio o resto das imperfeições. Como um enredo curto, personagens irrelevantes, um arco aqui ou ali mais fraquinho. E no fim, depois de passar por tudo isso… é bom pra caralho, mas eu sei lá que nota dar…
Parece uma afirmação super conflitante… E você está certo de pensar isso. Eu li o manhwa doido para saber que partes novas o Gunther iria usar, quais poderes os vampiros teriam e se um dia isso tudo ia acabar em tragédia ou salvação, algo que não posso revelar aqui. Foi muito divertido e aterrotizante, mas talvez acompanhar semanalmente tenha prejudicado o todo pra mim, e nas últimas partes me vi esquecendo um tanto do começo. Com no fim, no último capítulo, eu cogitando… valeu toda essa jornada?
O que é bom, pois cai perfeitamente em todos os temas até então, do desespero apocalíptico que paira em cada quadro, e do terror de tantos sacrifícios. Faz bem questionarmos e filosofarmos, e ainda assim o final da obra me deixou conflitante sobre ela mesma. Por um lado eu queria mais, pois realmente gostei. Por outro lado, me lembrei de partes chatas, e não concordei com tudo… o que talvez seja a proposta do autor.
Corpse Knight Gunther pra mim termina parecido com Dragon Head. Um pouco mais simples e menos impactante. Mas ainda assim um enredo que vai me fazer pensar por um bom tempo. No fim me fazendo ignorar de vez o conceito de nota e simplesmente recomendar. Pois se a obra me fez pensar tanto, não só em questões do enredo, mas nela mesma e no mundo real, acredito que exista aí o potencial dela se tornar a favorita de alguém.
No tempo em que fiz esse texto, saiu mais um capítulo, um epílogo, e resolvi escrever um pouco mais. Então considerem aqui como uma espécie de update. Como deu para notar eu tive dificuldade de avaliar a obra por conta da leitura semanal, e acredito que lendo completo tudo se encaixe melhor, como eu mesmo pude notar folheando o Manhwa quando busquei por imagens para essa publicação. Se não lendo espaçado por arcos, e não capítulos, assim mantendo tudo mais fresco em mente.
O outro detalhe que me desagradou foi o final. Não o arco inteiro, mas a partir da investida contra o último inimigo. E mesmo nessa parte, eu não posso dizer que desgostei de tudo. Tem alguns momentos genuinamente bons, e o mesmo posso dizer de outras partes, como a da competição de socos. Um trecho mais cômico, que no geral vai funcionar bem para aliviar a tensão, mas que no semanal era muito maçante de se ler, talvez até por eu preferir ação e drama a comédias. Mas mesmo eu esbocei um sorriso em certas partes.
E no final mesmo, último capítulo após tudo, temos o mencionado epílogo. Um dos melhores capítulos da série inteira, e que me fez repensar, parar, reler um pouco e voltar aqui. A melhor descrição para ele é WOW. Um dos comentários mais votados no Webtoon. Simplesmente WOW. E com esse fechamento eu me senti imensamente mais satisfeito. Eu recomendo Corpse Knight Gunther, caso não tenha notado. Mas agora diria que sim, sei melhor minha “nota”. E ela é “BOM PRA CARALHO”.
*imagens apenas do primeiro arco para evitar spoilers