Nada melhor para começar o terceiro dia do nosso especial de Halloween que Panorama do Inferno. Obra escrita em 1990, época a qual não apenas o autor, como também o mercado de quadrinhos de terror, entraram em declínio.
Isso fez com que Yasushi Hoshino, já cansado da vida de mangaka, cogitasse acabar com a carreira a qual foi conhecido pelo pseudônimo Hideshi Hino. E assim surgiu Panorama do Inferno, com o intuito de ser não apenas a última, mas a obra definitiva do escritor.
Após ilustrações grotescas, quase que um aviso sobre o conteúdo, conhecemos um pintor sem nome, que constantemente quebra a quarta parede se dirigindo ao leitor. A medida que a história avança o passado do personagem e revelado com mais detalhes, e nesse momento Hideshi se mescla com seu alterego, transformando pedaços da obra em autobiografia.
Talvez essa tenha sido a intenção desde o início, visto que ele costuma utilizar acontecimentos trágicos de sua infância, ou histórias de familiares, em suas obras. No caso de Panorama, a infância trágica do autor, nascido na região chinesa conhecida como Manchúria, toma vida em páginas mais realistas, porém não menos brutais.
Filho de japoneses, a “cria do demônio”, como ele se auto intitula na obra, nasceu ao final da Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em 1942, quando os japoneses já haviam perdido o confronto mas ainda não tinham se retirado por completo da região.
Ou ao menos é essa a impressão que temos ao conhecer o cotidiano de sua perturbada família, composta por espíritos e crianças dementes, assim elevando o cenário apresentado ao bizarro e grotesco, traçando um verdadeiro panorama do inferno.
Distinção que o próprio personagem central faz nos momentos finais do título, ao se entregar a insanidade e declarar poeticamente, de forma impressionante, tudo aquilo que guardava em seu peito. Possivelmente um dos finais mais memoráveis dentre os mangás desse gênero.
Fora isso, a obra conta com um arco intitulado “Três Gerações de uma Tatuagem”, o qual conta a trajetória de três patriarcas de sua família, as quais remetem mais a realidade que qualquer outro ponto do quadrinho, assim roubando a cena e entregando a obra ao drama.
Talvez não a melhor narrativa ou sequência de acontecimentos, mas sem dúvida impactante e perfeitamente construída, por mais estranha que seja tal ordem, mostrando o porquê de Hideshi Hino ser um dos mestres japoneses.
Nos anos seguintes o autor se recuperou, graças ao sucesso da obra, e continuou a escrever seus contos banhados em gore e terror.
Texto publicado originalmente em 26/10/2016