Resenha: Aokigahara

Você já ouviu falar de Aokigahara? Espere, antes de responder – mentalmente, já que não te escuto – saiba que estou falando da Floresta do Suicídio, nome popular dado a uma região florestal localizada a noroeste do Monte Fuji. Devido a sua extensão, 34 quilômetros quadrados, e também conhecida como Jukai, ou Mar de Arvores. Uma imensidão de verde que permanece assim sem desbotar o ano todo.

Porque estou falando disso e não vou direto ao enredo? Pois a história não só se passa neste local como tem como grande influência um documentário onde se encontram presentes tais dados, mas cujo o foco e igualmente o suicídio.

Todas as semelhanças as quais caracterizam o lado negro da floresta estão ali presentes. Bilhetes escritos em taboas de madeira, semelhante as encontradas em templos, restos de corpos, já decompostos com apenas ossos e trapos a mostra, o famoso manual do suicídio, o qual exemplifica locais para o ato, quantidade de dor e preço.

Mas o que mais me chama atenção é o simbolismo, ou o achismo de minha parte. O enredo nos apresenta dois personagens, um jovem que segue a vida regrada de helpdesk e uma garota aparentemente de perfil normal. O objetivo de ambos e embarcar mata a dentro e acabar com o sofrimento ao se enforcarem.

Na mão do sujeito temos um cigarro, cuja fumaça sempre segue para a mesma direção, o que poderia ser simplesmente a ação do vento mais que me vem à mente como uma forma de demonstrar que ele ainda está apegado ao passado, a vida, assim parecendo mais a típica linha que os suicidas usam para marcar o seu caminho e não se perder, caso exista dúvida. Uma oportunidade de voltar atrás e tentar encarar o mundo.

Já a garota fala de como queria ser bonita, que estava à espera de um cavaleiro em seu corcel, nessa hora com cavalos ao fundo de aparência grotesca entregando que o culpado e um coração partido. Roupa despida, abandonando seus bens materiais, talvez uma forma de se entregar ao espirito budista, afinal dizem que um monge abita as redondezas.

Enfim, antes de o nó ser atado nos é mostrado o passado, um conformismo que remete ao apresentado em Supernada e uma vaidade narcisista. Esses trechos são mostrados quadro a quadro, alternando entre os personagens, presente e passado, e leva a um final inicialmente feliz, mas que em uma releitura se demonstra depressivo.

É um enredo complicado, mas que por ser curto proporciona esse desejo de voltar a ler para absorver melhor o conteúdo sem a barreira das mil folhas. Tudo é apresentado num traço único que puxa tanto do ocidental como oriental e apesar de se tratar de momentos finais não cai como algo pesado.

Recomendo a leitura para aqueles que buscam algo diferente, pouco abordado e sem dúvida interessante. Algo rápido para se ler entre uma estação e outra, mas que lhe fara pensar durante o restante do percurso.

Por traz dessa HQ temos André Turtelli Polles e Renato Quirino, dupla formada em design pela Unesp e que iniciou a parceria com o livro de contos Aconteceu com um amigo dum amigo meu. Aokigahara e o segundo trabalho do duo e para ser produzido contou com uma campanha no Cartasse, a qual arrecadou 314% do valor solicitado. Em 2016 está previsto o lançamento de uma terceira obra, além de um HQ solo do Renato. Quanto ao André, ainda em Dezembro deste ano ele pretende criar um Tinyletter de contos.

Texto publicado originalmente em 30/11/2015

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