“O que caralhos devo analisar aqui?”
Ballistic
Antes de confirmar com Matthew Rosenberg de que eu iria escrever sobre We Can Never Go Home, muito antes de acompanhar projetos fantásticos como The Disciple, Toe Tag Riot ou Transference, veio Ballistic.
Esse foi o primeiro muro. Li tudo em um dia, empolgado por ter em mãos algo ilustrado por Darick Robertson, um dos nomes por traz do fenomenal Transmetropolitan. Infelizmente Adam Egypt Mortimer se mostrou um terrível escritor ao apresentar algo feito à base de drogas, se é que este não era o objetivo. Entre armas aliens parasitas e personagens nunca apresentados, mas com dezenas de clones, não sobrou muito o que falar, ou entender.
MayDay
Deixei de lado, o tempo passou e me enviaram MayDay. Eu fiquei dias tentando escrever sobre, justificar o que me motivou a ler até o fim, tentando colocar algum nexo nas minhas palavras.
Era algo confuso, experimental. Imagine que alguém peque Californication, a essência do plot ao menos, encha de armas e insira um culto satanista. Hollywood está fodida e a única salvação e um ator bêbado e uma garçonete, quase que o enredo de um filme B, talvez C.
Enfim, a descrição que me vinha a mente era tão ruim, e em certos pontos similar ao que escrevi acima, que bastou 240 caracteres para que meu colega Kouma deletasse o arquivo que havia lhe passado. Não posso culpá-lo, é realmente ruim, mas ao mesmo tempo…. bom.
Existe o fator adrenalina nisso tudo, e porque não dizer um pouco de “pseudo-cultismo”? De um lado acompanhamos algo em ritmo acelerado, quase um “bang-bang”, e do outro temos textos reflexivos, simbolismo e referências a cultura popular americana, incluindo o livrão preto nisso. Você acredita existir um contexto, se sente inteligente, mas no fim, entendeu algo?
Young Terrorists
Então mês passado, se me recordo, recebi o volume 1 Young Terrorists. Massivas 81 páginas, todas coloridas. Um hibrido entre seriado e novela gráfica que desafia os padrões americanos. Isso so poderia ser obra de outro se não Matt Pizzolo, co-fundador da empresa.
O nome já entrega, temos terrorismo como tema e jovens no comando da “revolução”. Nesse futuro inserto os Estados Unidos sucumbiram como potência, o governo foi desfeito e as industrias assumem o controle. Possivelmente uma crítica ao capitalismo. Se opondo a elas estão os veganos, que agora são um grupo radical aos moldes da PETA.
Fica difícil de saber se é uma sátira ou uma propaganda, Isso é, até lermos algo que muitas vezes passa batido, o posfácio. Esse é um daqueles títulos onde o autor tem de intervir para explicar o que o levou a escrever, nesse caso, uma briga judicial envolvendo um documentário. Acontece que o cineasta recebeu dinheiro do Tio Sam para bancar as filmagens, o plot não saiu bem como os políticos esperavam e não tardou de um figurão boicotar a distribuição.
Isso então quer dizer que o comic é bom ou ruim? Pelo capítulo 1 eu o colocaria como mediano, um 8 ou 80 a cada “arco”. A história começa com um sequestro, passam uns anos, temos um atentado. São incontáveis timeskips que traçam o caminho percorrido por Sera e Cesar, dois opostos que foram moldados pela injustiça do mundo. Ela começa como filha de um magnata, estudante condecorada, e termina como lutadora do submundo e líder terrorista. Não temos muitas informações sobre o rapaz, apenas que ele e um imigrante cujo sonho americano foi estraçalhado, mas que está disposto a atos extremos, como explodir o fucking McDonald’s.
Por fim fazendo o papel de avatar do governo temos um, quem diria, YouTuber. Em diversos momentos o texto nos faz “assistir” vídeos de um americano. Ele fala com as massas, tem certo carisma, dita verdades mentirosas. No entanto, ao final ele se mostra um mercador da morte. Armas com desconto, discursos de “você deve se proteger” e nenhuma lei para impedir. A esse ponto você já notou o quanto esta obra grita, mesmo que negativamente, USA.
E interessante, tem sua dose de ação, mas não foi feito para a nossa demografia. Muitos dos assuntos abordados estão atualmente nos noticiários, ou já tiveram passagem por lá, mas mesmo assim não quer dizer que o típico leitor brasileiro vá entender. Eu so soube mais a fundo o que era a PETA, por exemplo, após pesquisar os termos referenciados e esses detalhes atrasam muito o processo.
Agora me sinto mal, uma mistura de paranoia com ansiedade, por não receber mais copias. Já vai dar Outubro, tem dois títulos anunciado para esse mês e até o momento nada. Geralmente cai na minha caixa postal com antecedência, e isso so me faz me perguntar, será que eu não ter escrito a respeito dessas três HQs pesou para o meu lado? Afinal, o que caralhos devo analisar aqui? Sinceramente, eu que deveria escolher.