On the Nanquim: Supernada

“Dó pó da terra foste formado e ao pó voltarás”. Nunca fui religioso, considero a doutrina perda de tempo, mas existe uma certa verdade nessa passagem. Viemos do nada e ao nada retornamos. Então porque não afirmarmos que somos Supernada? Seres narcisistas, altamente suscetíveis, de moral deturpada e ações insignificantes.

Quando jovens temos a liberdade a nossa volta, escolhas a mil, e ainda assim seguimos a risco o imposto pela sociedade. Devemos abandonar tudo aquilo que importa, que diverte, que traz conforto, em ordem de alcançar o título de adulto. Se conforme com a corrupção, queime seus pertences e trate de sair de casa em troca da verdinha.

Sem Título-3

Nessa diferente história de coming of age Raphael Mortari traça um paralelo entre a sociedade e ele próprio, você, eu. Humanos em geral. Utilizando de sua vasta experiência com a vida ele criou um personagem mudo, guiado por um narrador onisciente, que caracteriza cada um de nós da forma mais abrangente possível. E um enredo crú, depressivo, cruel, fantástico, daqueles de cair o queixo e ficar horas refletindo sobre a própria existência.

Ao traço de Daniel Sanchez somos possuidores de licantropia suína. Identidades que são alteradas, suprimidas, a medida em que nos destrincham com suas mandíbulas manipuladoras. Uma espécie de gore que por mais real que seja não ofende, mas abraça o leitor como um velho conhecido. Tudo isso envolto no mais puro simbolismo.

Sem Título-2

A grande sacada fica por conta de como o enredo é apresentado. Uma terrível epidemia aflige a humanidade e os sintomas (comodismo, euforia, entre outros) são apresentados ao longo da vida de Mano numa espécie de etapas as quais todos nós passamos, mesmo que inconscientemente.

Saia um pouco da rotina e guarde alguns minutos para ler essa curta, porem poderosa, narrativa gráfica. Você pode negar, virar o rosto, mas não tem como não se identificar, se ver presente ali, ao menos afetado por um ou dois sintomas.

Sem Título-1

Meu único arrependimento após ler a obra e de não ter aceito a versão impressa. O digital vem mais rápido, facilita meu trabalho, mas eu queria realmente guardar essa HQ na estante e exibir minha posse com orgulho.

Já para você, caro leitor, ainda existe esperança. O quadrinho estará disponível a partir da semana que vem na UGRA PRESS, loja paulista especializada em publicações independentes. So material de alta qualidade, a ponto de não faltar Supernada.

Texto publicado originalmente em 30/08/2015

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