Esses dias eu criei uma espécie de roleta semanal contra o tédio. E eu sei o quão estranho parece isso para começar um texto sobre quadrinhos. Mas voltando a esse ultra pessoal relato, a ideia era reviver algo da minha pré adolescência. Usar um randomizador para escolher atividades para cada dia. Num sentido como “segunda – ver Duro de Matar” “terça – ver Senhor dos Anéis” e assim por diante, só que expandindo a tudo que gosto e com mais fatores aleatórios que não valem explicar aqui.
Tudo isso por eu ser muito indeciso. Atualmente temos tudo a fácil alcance por meio da internet e quando temos um certo poder aquisitivo isso piora. Nos transformamos, mesmo que sem notar, em hoarders. Acumuladores. E nem falo isso me colocando como o riquinho lombadeiro que gasta sem parar ou um viciado em lixo que lota a casa. Não, sou apenas uma pessoa com hobbies, e acabei acumulando muitas leituras e afins ao longo dos anos.
Uma comparação boa a esse estado seria dizer que ajo feito um dragão. Me sinto todo todo ali com meus milhares de gibis empilhados, igual se vê as feras em seus covis dracônicos repletos de ouro. E ali consumo meus tesouros aos poucos, para me fortalecer pessoalmente. Porém sem jamais ver um fim para aquela torre de papel, e ao mesmo tempo ignorando o excesso e sempre desejando mais e mais, num ciclo sem fim.
Olhando assim podem pensar que o tédio passa longe, e deveria ser o caso. Mas com tanta coisa não consigo decidir qual a próxima leitura. Chega me dá um nervoso, e por vezes desisto completamente. E no topo disso, com aquisições constantes, sempre vai existir aquela obra que passa batida. Você compra, ou baixa, e deixa ali. Nem folheia, por meses, talvez anos. A não ser que você tenha um sistema mirabolante feito na adolescência é… enfim, rolei o dado, e saiu JLA: League of One.
Numa tradução literal, Liga da Justiça da América: Liga de Um dos únicos quadrinhos que teve esse meu desleixo, de ficar ali no cantinho, sem jamais ser aberto. E que agora, graças as parcas que o profetizaram como parte do meu destino, pude apreciar esse conto mitológico da Mulher Maravilha enfrentando o avatar de tudo que falei. Um dragão.
Sim, isso tudo foi um jeito bonitinho de dizer que joguei pra sorte e caiu num gibi que eu não tava querendo ler. Fui lá, olhei, terminei, e puta merda… história favorita da heroína da DC. WOW. Que conto fantástico. E eu não estou exagerando aqui. Realmente gostei muito, por mais que não se tenha tanto o que falar.
League of One é isso. A Mulher Maravilha vai enfrentar um dragão medieval. É simples, e poderia ser péssimo por isso. Mas Christopher Moeller (Lucifer, Iron Empires), que assina roteiro e arte, acaba transformando tudo em um épico memorável. Daqueles que realmente parece um conto extraído de alguma mitologia.
E parte da graça que leva a tal comparação é a escrita pomposa, cheia de elementos que visam elevar a leitura a algo acima de um gibi, parecendo um livro em certos momentos. E completando tudo, o ponto que mais chama atenção, a arte.
Acontece que Moeller é capista, e eu não botei Lucifer ali entre parênteses atoa. Iron Empires é seu grande autoral, mas obras como Lucifer e A Sombra do Morcego são as que elevam o nome dele. Com capas mega detalhadas e memoraveis, que aqui se transformam em movimentos nas mais belas páginas. Dignas de pinturas. Com algumas que me lembram fortemente as mais memoráveis capas de Tolkien. Talvez não como eram de fato, mas sim como eu as via com meu olhar de criança em outra época.
Resumindo, quero dizer que a arte de Moeller me remete a arte de capas de épicos de fantasia. Porém não o real, e sim aquilo que minha mente criou e associou como sendo o real. É tipo vermos Dragon Ball FighterZ e acharmos que é idêntico ao Dragon Ball da TV, quando na verdade é uma melhora ou mudança que incorpora melhor técnicas modernas. Que no fim alcança o patamar de nossos sonhos, mais do que o de lembranças fotográficas.
Um enredo que poderia ser contado sem a Mulher Maravilha e sem a liga, apenas mesclando mitologia grega ao folclore medieval. Mas que com a inclusão dos personagens da DC trás um extra muito gostoso, onde podemos ver eles interagindo na trama de maneira muito bem conduzida, em algo que beira ao easter egg. E um puta fanservice gigantesco, e isso logicamente agrada. Principalmente quando temos Diana sendo a mais badass a todo momento.
Em algo simples, como enfrentar o dragão, mas que inicia com “Diana, se você enfrentar a fera, vai MORRER, e todos os seus aliados suncubirão”. Logo, objetivo simples, execução complexa e alto risco. Curto, porém fenomenal. Em algo que mal posso detalhar, se não estraga a obra. E portanto me satisfiz a escrever tal review, cheio de voltas, para tentar mostrar a excelência de algo que só precisa de si próprio para tal. Leia League of One. É foda.
No mais, ainda dentro do volume que tenho, existe a história Cold Steel, também de Christopher Moeller, mas passando da fantasia para o sci-fi. O traço se mantém absurdo, e apesar de mergulhar fundo na ficção científica, é um enredo bem mais Liga da Justiça. Aqui todos são fundamentais, e a trama até que é divertida. Tirando o ponto final.
É um HQ que eu teria bem mais do que falar sobre, mas que me recuso a embarcar em tal ato. Pois por cima temos heróis sem poderes, usando mechas numa guerra intergalática, o que sozinho já é foda pra caralho. Mas do outrolado temos um enredo mega confuso sobre corpos complexos e um aparelho semi orgânico capaz de obliterar realidade e multiversos. De forma jamais vista na DC, acredite, e que ao meu ver tem furos mil. Seria melhor colocada em algo consideravelmente mais longo que uma minissérie, justamente para conseguir explicar tudo sem se submeter ao monótono de explicações sem fim.
Cold Steel é CHATO. Foi isso que tirei de toda essa confusão espacial. Eu estaria mais que satisfeito com algo simples, mas competente, como foi League of One. Porem no fim fui bombardeado de informações em algo que podia simplesmente ser Mecha do Superman faz boom e eu ficaria mais entretido. Pois às vezes, mais é menos.
Ainda assim acho que vale a leitura. Podem até me colocar como doido aqui, me contratidenzo e tals. Mas gente, não é sempre que vemos mechas desses super herois em ação. E como já bem falei, diverte e so escorrega no finzinho. As lutas e as civilizações mostradas até que são bem intereçantes, e por vezes muito foda de se ver. Sento um complemento legal pra edição curtinha de League of One.