Calaboca, Fido! – Guerra, solidão e um cãozinho

E vamos de HQ brasileira, com Calaboca, Fido! Um quadrinho que basta você ler o nome e ver a capa para saber tudo. Guerra, um soldado negro e um cãozinho. Eu até poderia estender a sinopse, mas você pode realmente prosseguir a leitura só com base nisso. E nesse ponto fica até complicado justificar um texto no site. Onde minha desculpa pra isso se resume a “Eu absolutamente tinha de recomendar essa obra.” Sem mais.

E sim, eu podia parar aqui e fazer o review mais curto do milênio, mas bora ver alguns dos motivos para você ler essa obra prima. A razão número 7 de 12 vai lhe surpreender, haha. Mas falando sério aqui, o quadrinho foi escrito por Eduardo Kasse, escritor primariamente de livros, onde sua obra mais reconhecida é Tempos de Sangue. Mas isso não significa um grande distanciamento dos HQs. Kasse trabalhou em versões para HQ de seus livros, como Vikings, e em outras publicações da editora Draco, sempre focando em guerra, fantasia e drama em suas obras.

Dois desses gêneros se mostram fundamentais em Calaboca, Fido! A guerra, a qual obviamente é o cenário central, e todo o drama humano e de conflito que se passa pelo protagonista Chico. Nosso intrépido soldado, que acompanhamos por um longo tempo, ao lado do Rex, Carniça, Doguinho, Toto ou só Fido se preferir. Um cãozinho que cresce cada vez mais como o segundo protagonista ao longo da obra, por mais que não seja um bicho cartunizado.

Digo isso pois Fido é literalmente um cachorro, sem por nem mais nem menos. Ele é real, e esse realismo contribui de forma tremenda para o enredo. A forma como ele é mostrado faz você ter simpatia por um animal, e não por uma psique humana incorporada em algo “semi antropomorfo”. Ao mesmo tempo que isso faz as conversas de Chico com Fido parecerem delirantes.

Um ponto que vem do conflito. É uma guerra cacete, e isso mexe com as pessoas. Tanto que o HQ começa com uma morte de bala perdida e um suicidio. E daí é ladeira abaixo. Tu já sabe da merda por conta da página inicial, com Chico enterrando o último de seus colegas. Mas o impacto nunca se perde. É tudo muito rápido, sem dar tempo de respirar. Visceral, mesmo que não seja explícito. Tem sua violência, mas não gore. E isso não importa, pois essa pancada que o leitor recebe vem com tudo por conta do traço magistral de Tiago Palma.

Não tem como falar que quadrinho é só do Kasse. As ilustrações do Tiago fazem uma diferença tremenda, colocando tudo de forma perfeita a seguir o enredo em cada página. Você nota isso pelas expressões de cada personagem, enquanto os diálogos completamente BR de Kasse dão o restante da vida de cada personagem. É de fato um trabalho conjunto em plena sincronia. E eu não esperava nada menos do Tiago, visto que ele venceu o HQMix participando de VHS.

Essa caracterização de Chico é importante pois, como visto no começo, ele eventualmente fica sozinho. Só existe ele é o cachorro de outrem, que leva o nome de Fido e tantos outros ao decorrer da trama. E isso da solidão, num lugar hostil sem esperança e repleto de morte, obviamente ataca a mente do personagem. Logo o vemos evoluindo não de forma tradicional, como alguém que cresce ao longo do cotidiano, mas sim como uma pessoa traumatizada que tem altos e baixos frequentes. É uma literal montanha russa de emoções, intercalada com momentos de ternura do cãozinho e muita ação frenética. Que culmina num final extremamente impactante, que ao menos pra mim fez tudo que veio antes parecer uma simples topada de dedo na cabeceira. Onde o encerramento estaria mais como o momento que você se toca que levou uma surra e toda a dor do corpo vem em dobro.

Ao fim da edição da Draco, temos extras sobre o processo de criação e um conto suplementar de Kasse. Escrito mesmo, sem desenhos. Que é uma ótima forma de ver o estilo de escrita em livro do autor. Além de apresentar a origem omitida de Fido. Assim fechando essa publicação fenomenal. E nem preciso dizer né? Recomendo Calaboca, Fido! pra caralho.

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Calaboca, Fido!

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