A Kite – Um “cult” para se esquecer

Eu já vi algumas pessoas colocando A Kite como um clássico cult, mas nunca fui atrás de assistir por uma série de fatores. Sabia que parte da fama do OVA vinha da animação e cenas de ação, porem tinha ciência do erotismo e violência empregados na obra, os quais sempre vi colocados como extremos.

O outro fator de não ver o anime tão cedo foram suas diversas versões, pois este foi lançado com diversos níveis de censura, isso quando podia ser lançado. Sendo A Kite um título banido em diversos países, e depois de ver entendo bem o porquê. Porém o maior motivo deu não ter visto eram rumores de que o OVA tinha sido perdido. No caso não por completo, mas danificado ao ponto de não poder ser restaurado.

Logo eu só fui ver os OVAs, agora compilados em um filme, quando saiu o blu-ray americano, o qual contém todas as cenas, incluindo a parte do director’s cut, sem censura. Uncut. E com a obra parcialmente remasterizada. Assim apresentando um entrelaçado de cenas em baixa e alta qualidade, com um aviso sobre impossibilidade de restauração completa. O que dá uma certa credibilidade ao rumor de que parte se perdeu. Como? Não sei, não achei mais nada a respeito, mas bate com esses detalhes.

E eu queria começar essa análise falando de como o início me surpreendeu. O problema é que essa surpresa foi positiva e negativa, numa escala de 8 a 80 em menos de 10 minutos. Então vamos tirar o grande elefante da sala falando logo sobre o erotismo. Certamente o pior ponto aqui, sendo algo completamente desnecessário, nojento, e que tira completamente o foco dos pontos positivos de A Kite.

Isso aqui é um hentai. Eu não consigo por de outra maneira. Fui ver achando que teria uns peitinhos e saia levantando mostrando a calcinha, em algo mais ecchi, com um pouco mais liberado por ser algo que não foi exibido na TV. So que grande parte desses pedaços é sexo explícito, com órgãos sexuais a mostra, diversas posses e penetração. Não tem ângulos para esconder, sombras ou lençóis. Está tudo a mostra e não condiz com boa parte do anime.

Sim, quebra o fluxo completamente, com algumas partes sendo diálogos de outra conversa colocados em cima de animações pornográficas. E eu entendo que ter isso no filme faz parte da proposta que tanto escancaram de ser uma obra adulta sem igual. So que isso não muda que não existe um proposito ali e que tudo foi feito de forma péssima para lucrar em cima de certos consumidores. Um filme que sim, poderia continuar sendo bastante adulto sem ir a extremos. Onde aqui o adulto ficou só na classificação etária.

O único momento em que faz sentido ter sexo é quando comentam o motivo das missões de Sawa. Ela trabalha para um sujeito que diz escolher como alvos de assassinato estupradores, molestadores e pedófilos. E ele transar com Sawa mostra as mentiras e a hipocrisia nesse discurso, uma vez que a garota ainda aparenta estar no ensino médio e existem cenas eróticas em flashbacks. O problema aqui é que não basta fazer sentido. Se você vai inserir algo desse teor numa obra não pode fazer com que o ato sexual possa vir a ser aproveitado por um espectador. Não pode ser explicito, não pode ter gemidos de prazer e rostos de tesão, e assim vai. Tem de ser algo rápido, focado em passar a mensagem e não em mostrar corpos nus se agarrando. E ainda assim, existem outras maneiras de se passar isso sem apelar a extremos, que podem inclusive ser mais impactantes.

Se tirar essas cenas diria que 20 minutos se perdem. E eu gostaria disso. Remover algo que demérita a obra em prol de tentar fazer um enredo mais condizente. Pois olha, o plot é cheio de furos. E adivinha, parte desses furos vem justamente por conta desse foco doentio no sexo. Pois não faz sentido pelo background da personagem ela se submeter a esses atos.

No resto o plot é so algo fraco, genérico. Tanto que já falei dele quase que por inteiro aqui. Sawa teve seus pais mortos quando menor. Isso gera um trauma e ela passa a trabalhar para Akai como assassina. E sim, tem alguns furos aí. Nessa parte é proposital, por ser o tipo de obra que começa sem motivo e você vai juntando os pontos aos poucos. Mas ainda assim não espere nada surpreendente. Da para enxergar como tudo vai se dar no anime sem que tenha de se pensar muito.

Os únicos pontos realmente trabalhados é a relação de Sawa com Oburi, as missões e o clima. Oburi seria o segundo protagonista e possível par romântico de Sawa. Da para notar que eles se gostam, de forma bem mais inocente. Não existe nem mesmo toque entre os 2, sendo Oburi o único personagem a não participar de cenas eróticas. Ao ponto de que me questiono se em vez de par romântico eles não teriam achado um no outro algo mais leve ainda, como o carinho entre irmãos.

Gosto especialmente dessas partes pois elas mostram com clareza o quanto era desnecessário fazer desse anime um hentai. Não é um relacionamento complexo, apenas 2 jovens juntos de forma bonitinha e isso me agrada, por mais que Oburi seja mais um entre diversos personagens rasos.

Parte do motivo deu curtir esses momentos e o clima do anime. As transições de um local ao outro mostrando o mundo, quando ocorrem, junto de uma música mais imersiva, as vezes bem voltada ao que se espera de um Slice of Life, já outras caindo para o completo oposto, mas sem nunca parecer desconexo e prendendo o espectador. Um feito atribuído ao lendário Youta Tsuruoka, que participou como diretor de som animes fantásticos. São tantas contribuições que recomendo verem neste link.

Mas sem dúvida alguma o grande destaque fica na animação. Eu adoro o traço da obra, os cenários e diversos outros aspectos, pois me deixam um tanto nostálgico apesar de todos os demais pontos negativos. Quando A Kite parece tentar algo sério me remete a época em que comecei a ver animes. Não necessariamente os animes daquele ano exato, mas sim os primeiros que tentei assistir ainda no meu PC tubão.

Nem todos eram de qualidade, mas existia um certo charme naquele estilo. Ou talvez seja minha preferência por algo mais cru batendo. E com os sons entrando no mix acabei mergulhando no filme e saindo bastante satisfeito com a experiência, apesar de tentar bloquear a parte sexual da minha mente. Um ponto que já vou retomar.

Ainda na animação, o ápice de A Kite são as cenas de ação. Eu já vi muito filme, muitas animações, tanto orientais como ocidentais, e consegui me impressionar bastante com o apresentado, principalmente na longa e absurda cena de luta no banheiro. É tanta ação, tanta adrenalina que você esquece de tudo que veio antes e ignora por completo certos pontos sem sentido. Pois quem precisa de logica quando tudo em tela é foda para caralho.

Logo como já disse eu entendo que o anime ter sido banido e censurado vem principalmente dos extremos. O filme é bem violento, mas não chega a ser gore, tirando um pedaço com imagens mais realistas em quadros. Está mais para um Kill Bill e seus litros de sangue e ocasionais membros decepados, além de muitas explosões e cenários destrutivos. É violento na ação, mas nada que não tivesse aparecido antes.

Portanto o maior motivo de repudio vem das cenas de sexo desnecessárias e com menores e a violência também está mais atribuída a isto, pois abuso e estupro são sim atos de violência. Cenas que me deram um verdadeiro desgosto, e que são mais do que suficiente para não recomendar A Kite. Talvez não em sua forma integra. Pois o material censurado nesse caso agrega um maior valor. Logo não vejo tanto problema ver este cheio de cortes ou ir no YouTube e buscar cenas separadas para se divertir com a ação.

E então retomamos ah “acabei mergulhando no filme e saindo bastante satisfeito com a experiência, apesar de tentar bloquear a parte sexual”. Quando disse isso estava pensando no quanto o filme poderia ser aproveitado sem o sexo. E talvez seja daí que vem o status de cult e notas mais altas do que deveria. Se você pode aproveitar algo ignorando ou pulando cenas, imagina assistir sem essas partes e achar que viu a obra na integra. Certamente seria uma experiência a parte, muito melhor que a original. Por mais ridículo que soe.

Sim, esse é um dos animes que existiu. Abre o YT e assiste no mínimo a parte do banheiro. Seja feliz. Ignore o resto. A Kite influenciou outras obras, e teve sim o seu impacto na indústria dos animes e cinema, mas duvido que tenha sido por conta de seu lado devasto. Por fim se tornando algo digno de ser esquecido.

4 Replies to “A Kite – Um “cult” para se esquecer”

  1. eu achei bem dahora, so não gostei do final bad, pra mim isso sim foi desnecessário, a cena de sequissu eu ate entendo, é pra história fluir, mas boa analise tio 🙂

    1. Que bom que gostou, do filme e analise. ^^ Eu acho q o sexo se tivesse menos seria melhor, mas é aquilo, não tira o merito do resto. Se não esse não seria considerado classico cult.

  2. interessante, deu vontade de assistir, ecchi geralmente não me incomoda, mas isso é porque assisto muito obras bobinhas como dxd ou Shinmai maou… mas quando envolve algo mais psicológico ou violência misturado com ecchi pesado aí nao é minha praia, mas também se a obra em si for boa, não é algo que vá atrapalhar. A história em si parece interessante, vou dar uma chance, quero ver a versão sem censura se eu encontrar. (obs: não li toda a análise, só os primeiros 6 parágrafos, vou deixar pra ler o resto depois de assistir, só vi que tu pegou muito no pé do hentai kkkk)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *