Texto com base nos capítulos 01 ao 20
Se você manjá um pouco de inglês sabe do que se trata Neverland. Terra do Nunca. Um reino mitológico que abriga piratas, sereias e o próprio Peter Pan. E ainda assim, porque um mangá com esse título evoca tão pouco da ideia original de J. M. Barrie?
Sim, e possível se enganar com o título e as diversas imagens promocionais, repletas de crianças, mas também não significa que você esteja errado em assumir que lera uma adaptação de Peter Pan. Basta mudar sua perspectiva, e trocar adaptado por inspirado em.
Primeiro de tudo, a ambientação de The Promised Neverland e de fato europeia, apesar de não ser exclusivamente britânica, e a ideia de um orfanato onde crianças não passam dos 12 e entram em conflito contra adultos remete claramente ao plot central. Porem aqui não temos aventura, e sim mistério e suspense.
Inicialmente o enredo parece com o de um slice of life, mais tarde aparentando se tratar de sci-fi e por fim culminando num mundo fantasioso onde ao invés de sereias temos demônios. E para deixar isso fixado em nossa mente, uma cena digna de Berserk, a qual ainda estou estupefato de ter sido permitida nas páginas da Shounen Jump.
Não vou me aprofundar no ocorrido no primeiro capítulo, pois mesmo que eu concorde com os disseres “o começo não é spoiler”, eu realmente sugiro que adentrem a obra às cegas. Indicar num review como tudo começou é interessante, mas sem este impacto inicial a obra perde um pouco de folego. E fundamental que o leitor faça este caminho com as próprias pernas, assim se prendendo de vez ao enredo.
Mas logico, isso também não significa que não possamos tocar em outros pontos, como o orfanato parecer não ter saída, termos 3 protagonistas, dentre eles uma mulher, e o próprio ursinho da jovem Connie. Pontos que soam irrelevantes, mas que novamente fazem referência a Peter Pan.
Na verdade e difícil não ver essas sutilezas no roteiro, como na parte em que falam de “rope”. Literalmente corda. Uma forma de se escalar o muro que é posta em diálogos que remetem a esperança, ou “hope”.
The Promised Neverland conta a história de um grupo de crianças superdotadas que visam escapar de um orfanato, para que assim possam atingir a vida adulta e retornar ao mundo real, mesmo que este seja cruel e não tenha as mesmas vantagens de sua atual moradia.
O futuro que lhes aguarda deixa claro ser distópico, talvez apocalíptico, sendo o próprio orfanato uma falsa utopia. E enquanto a obra inicialmente se foca na fuga, mostrando personagens fracos que tem de recorrer a inteligência para sobreviver, não acredito que isto se manterá em toda a obra. O que caracteriza uma desvantagem ao leitor atual e uma vantagem para o autor, se bem trabalhado.
Num mundo repleto de monstros e sim possível criar mistério e suspense, podendo até mesmo juntar ao terror e incluir elementos de aventura, talvez criando uma jornada tensa, como a de Watership Down. Porem estamos falando da Shounen Jump, lar de obras como Kinnikuman e Reborn.
Ou em outros termos, espere subitamente por uma mudança de suspense para ação. Algo cabível no enredo devido aos próprios mistérios do mundo exterior, o fato de existirem inimigos e a similaridade com Peter Pan. Em algum momento alguém vai empunhar uma espada, seja por não ter outra saída, seja para mudar por completo o gênero e se manter nos ranks da revista, ou por um simples capricho do autor.
Independentemente do que for, uma coisa é certa. Em sua forma atual a obra e a melhor dentre seu gênero em anos de jump. Talvez não comparável a Death Note, mas com um carisma digno de Hunter x Hunter. E por tanto, eu aposto no título e pretendo ler até o fim, mesmo que um dia seja cancelado. E você?