Já imaginou um mundo onde superpoderes são reais, porém tal dom é concedido apenas aos negros? É com essa premissa que se inicia mais uma série polemica da Black Mask, agora encarando de frente o racismo.
Você pode até olhar e pensar, mas onde está a novidade nisso? X-Men, um dos muitos títulos homenageados nesse primeiro capítulo, tem como um dos pontos do enredo a exclusão de pessoas por conta de diferenças, porem de maneira muito ampla. Tanto que alguns podem facilmente ignorar esse detalhe ou encará-lo de forma completamente diferente, talvez enxergando uma espécie de combate ao bullying ou exclusão de deficientes. Sem contar o cast de maioria branca.
E então temos títulos famosos um pouco mais centrados na comunidade negra, como foi o caso de Super Choque, ao menos quando era publicado pela Milestone. Ao ser adquirido pela DC ele até teve alguns volumes mais centrados nisso, porem com o tempo se desvirtuou, levando então a versão mais famosa onde ele é mais um herói negro em meio a uma comunidade branca. Um secundário que mal aparece e constantemente é remodelado.
Talvez o melhor exemplo atual de herói de cor seja Luke Cage, o qual recentemente ganhou uma série na Netflix. Tanto que o principal de BLACK, Kareem, tem os mesmos poderes de Power Man, ou seja, um corpo indestrutível. Podendo talvez ultrapassar o mesmo, levando a uma espécie de Super-Homem alternativo, o que seria um ponto até que interessante. E como tal um símbolo de esperança.
Estão entendendo a diferença? Enquanto BLACK pega elementos de diversas outras obras, incluindo a definição de quirks de My Hero Academia, algo que eu sinceramente não esperava e que ficou muito bem bolado, a maioria são apenas homenagens do autor. Como é o caso de um pequeno painel com 4 quadros dando destaque a poderes iguais aos do Quarteto Fantástico.
E porque BLACK faz isso, correndo o risco de soar como plágio? Pois toda essa questão de super-heróis não importa. Isso que separa a obra de títulos como X-Men, Super Choque ou até mesmo Luke Cage. Os poderes são um chamariz, um pretexto, assim como todo esse fanservice, para tratar de questões sociais sérias.
O HQ começa com uma policial narrando a indiferença de seus colegas com os negros, mostrando uma chamada de rádio para uma ação que poderia incriminar qualquer pessoa desavisada como suspeita e que culmina num grupo de 3 jovens sendo fuzilados em local público.
Uma realidade triste a qual é comum em vários bairros de maioria negra, principalmente nos estados unidos, foco central da obra. Um país que pela sua história já deveria ter dado um cabo nessa questão do racismo há um bom tempo. Mas faltam campanhas do governo e ensinamento em locais básicos, como escolas ou a própria casa. E o mesmo vale para o resto do mundo.
Isso é algo que deveria ser aplicado desde cedo, por isso a importância de quadrinhos que retratam esses temas. Seja de forma seria como BLACK, num meio termo, o qual ao menos coloca o leitor em outro ambiente, como em Luke Cage, ou com as editoras mostrando que negros podem sim ser algo mais, tal como ocorre com Ironheart, a sucessora do Homem de Ferro.
Mas talvez o ponto de maior impacto, e importância, em BLACK, sejam as cores. Nenhuma. O quadrinho é inteiramente composto por tons de cinza, assim fazendo com que todos os personagens sejam iguais, ao menos nesse aspecto, demonstrando claramente o quão fútil é dividirmos nosso povo por cor de pele.
“I am America. I am the part you won’t recognize. But get used to me. Black, confident, cocky; my name, not yours; my religion, not yours; my goals, my own; get used to me.”
Muhammad Ali (1942)