Resenha: Ghost in the Shell

Em 1960 o governo dos Estados Unidos criou a primeira rede de comunicação via computadores. Algo inimaginável, digno de um enredo de ficção cientifica, e assim ficou como quase um mito por 20 anos, quando nos anos 80 primeiramente se criou a ARPANET, uma teia de uso acadêmico e militar, que posteriormente deu origem a internet moderna em 1990 graças a Tim Berners-Lee, criador do primeiro web server.

Isso foi a exatos 25 anos atrás, e desde lá aquilo que já era um tema recorrente na literatura se expandiu para todas as mídias, agora visando evolução ao invés de criação, e quando misturado a inteligencia artificial ou realidade virtual este por vez acaba abrangendo plots colossais que envolvem até mesmo o sentido da vida, assim mostrando que a imaginação humana não tem limites.

E para comemorar o aniversário deste ilustre jovem que mal entrou na maioridade nada melhor do que resenhar uma obra que leve está evolução da internet aos limites. Eu poderia falar de Matrix, Log Horizon, Corrector Yui, ou até mesmo algo do Assimov. Nomes não faltam. Porem em minha opinião não existe título melhor do que Ghost in the Shell.

Sim, o filme de 1995 trata muito bem dessa expansão, mostrando um mundo onde as mentes estão conectadas por uma única rede, assim dando fio para falar de assuntos como “será que eu realmente existo, ou sou apenas uma IA?”

Porém não vamos falar deste aqui, afinal todo mundo está cansado de saber os méritos da Major Motoko Kusanagi no cinema, e digo o mesmo para as series. Ao invés disso este texto se concentrara no mangá de mesmo nome de 1989, o qual deu origem a toda esta franquia.

1 anos antes do surgimento da World Wide Web Masanori Ota, mais conhecido pelo seu pseudônimo Masamune Shirow, cria sua terceira obra sci-fi, o clássico Ghost in the Shell, o qual conta com conceitos de robótica reaproveitados de obras anteriores, como Black Magic e Appleseed, e os intercala com uma conexão neurológica mundial.

Uma história cabeça, da qual e fundamental a concentração do leitor e que conta com alguns dos personagens mais fortes dos quadrinhos, ilustrando bem o poder feminino… alguns diriam tendo visto apenas o filme.

Infelizmente o mangá começa muito fraco com histórias episódicas sem conexão, que até mesmo parecem estar em mundos paralelos e possuem termos de difícil entendimento, completamente inventados, assim lembrando em parte as gírias de Halo Jones.

Mas o pior é a representação da principal, a Major Motoko Kusanagi, a qual no filme se mostra seria e determinada, enquanto neste começo temos uma garota rebelde de aparência burra e altamente sexualizada.

Neste momento vale lembrar novamente que estamos falando de algo dos anos 80, início dos 90, onde biquíni era o novo sexy, e de um país onde a cultura se mostrou machista por um longo período. Logo mesmo sendo uma doll apenas o fato dela estar nos holofotes já foi uma grande vitória para a época.

Com o tempo sua personalidade vai se encaixando mais no perfil que vimos no cinema e aquela personagem besta, que parecia mais uma desculpa para se ter mulher no grupo, acaba roubando a cena. Nesse ponto as histórias passam a lembrar mais Stand Alone Complex, sendo algumas inclusive adaptadas fielmente.

Por fim, após o encontro com uma misteriosa IA, o mangá se torna sequencial, puxando então mais para o clima do filme e realmente entrando dentro de questões existenciais, mostrando então o verdadeiro charme do título. Uma grande e complexa filosofia, quase de cunho religioso, que ou lhe fara pensar na vida ou o manterá num estado de confusão supremo.

Diria que a obra so vale por esses momentos, e no geral se mostra apenas como algo divertido, bom para se matar o tempo, fazendo uma intercalação entre capítulos de ação que não exige um pingo de esforço mental com tretas políticas do mais alto nível.

Quanto a arte, ela deixa muito a desejar. As páginas coloridas são simplesmente fenomenais, principalmente as partes de sexo praticamente explícito, a qual vai agradar fãs de Manara e afins, porem existe uma inconsistência tremenda no traço, o que faz em certos momentos o leitor se questionar se não existe algum assistente descreditado o qual fez todo o trabalho.

Falo de capítulos inteiros desfigurados, seja pelo motivo questionado acima ou esgotamento do autor, onde temos personagens de cabelos diferentes, e em alguns momentos até mesmo feições. Mas no geral ele segue o estilo de mangá da época.

No geral Ghost in the Shell me pareceu um quadrinho sem rumo, o qual foi se descobrindo aos poucos, assim tornando um início desastroso numa perfeita escala de qualidade, encerrando com uma conclusão não perfeita, mas favorável e extremamente gratificante.

Ghost in the Shell foi publicado no Brasil pela editora JBC, a qual promete em breve trazer outros títulos relacionados a franquia.

Texto publicado originalmente em 25/08/2016

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