Bibliomania – Uma viagem pelo conhecimento em prol da verdade crua

Bibliomania. Digamos que você conheça apenas o nome dessa obra. Ao pegar para leitura o que espera? Talvez algo religioso no aspecto mais comum, talvez uma reinterpretação bíblica ou quem sabe uma crítica aos métodos de manipulação da igreja, derivado do sufixo “mania”, de vício.

Isso assumindo que de alguma forma não tenha notado a bela capa. Uma garota nova, trejeitos bonitos e sorridente, meio a meio com algo inimaginável. Um monstro, uma entidade, uma deterioração, uma outra face cruel. Algo que implica a possibilidade do terror e ao mesmo tempo do drama, mas com algo sutil no meio. Quem sabe aventura, quem sabe um cotidiano ou mundo a ser explorado.

Ao folhear as primeiras páginas nos deparamos com ilustrações certeiras. Daquelas bem desenhadas, cheias de detalhes e que prendem o leitor em sua beleza. Mesmo que estas não apresentem um cenário reconfortante. Guerra, destruição, fim do mundo. Algo caça os humanos. O ritmo de apresentação é voraz. Logo muito se passa e pouco se sabe.

Esse mundo caído e parte da apresentação me remeteram imediatamente a Katsuhiro Otomo. O que faz sentido, pois muito da obra tem uma pegada meio de filme. E por vezes me vi desejando aproveitar tudo isso em cores, animado numa telona. Me perguntando quem dublaria Alice, quem faria a Serpente.

Ah, eu não mencionei? Após tal introdução o branco reina e o detalhamento se esconde em pontos mais específicos. Alice, a protagonista, garota da capa de suposta dupla personalidade, acorda assim. Número na mão, porta em frente. Tal qual Infinity Train.

Quem é ela? O que é esse lugar? Porque porta e número e cadê o outro mundo? Estamos agora num ambiente mais calmo, com um nome reconhecível. Alice no País das Maravilhas e Espelhos. Quem nunca se deparou com ela, se é que ela seria ela mesma. Uma resposta que vai se construindo ao decorrer da narrativa por flashbacks em meio a uma contagem.

Sim, existe algo que remete a um cotidiano levemente. Após toda a destruição Alice anda no mundo real observando, explorando e procurando. Enquanto ao canto sempre nos falam o período pré entrada. 5 dias, 3 dias, 24hs, 20 mins, não importa. Entrada no que, se não o local em branco.

Mais um de muitos mistérios. Mas não tema, a serpente branca de nome Serpente tem várias dessas respostas. Agora sim entrando em algo religioso, talvez, mais padrão. Serpente, pecado, cristianismo. Algo está errado. Certamente a obra vai se voltar a isso, caso não tenha notado os visuais maias, astecas e demais simbolismos.

Eu diria que essa parte Inca ou o que sejá, a qual sempre me confunde, remete às previsões de fim do mundo. Apocalipse. Alice é a história de uma garota presa num mundo de fantasias perigoso que busca voltar ao mundo real. A serpente se mostra boa, mas sempre duvidamos. Pois é sempre muito isso e aquilo, com desejos infinitos ao fundo, para se manter num único ponto. Soa errado.

Logo não dá para dizer que tais interpretações estão erradas. Isso está ali realmente para puxar algo da mente do leitor. Portanto é a verdade. Mas a verdade do simbolismo em prol da narrativa não equivale à verdade real da obra a ser apresentada. Bibliomania é isso. Uma jornada de pensamentos, mentiras, realismo, ilusões, realidades, e afins. Nada certo, nada errado. E ainda assim um gancho certeiro a fisgar o leitor.

Tudo isso lhe passei com base somente em poucas páginas. Nem metade de um dos muitos capítulos irregulares. Portanto vamos lá, que tem mais. A porta é exatamente a ideia do mencionado Infinity Train. Me pergunto se Biblio inspirou o cartoon ou se algo mais antigo fez surgir esse ponto em ambos. Mas é simples. Cada porta é um andar, um mundo. E cada mundo é algo novo, único, influenciado por algo específico.

No trem do cartoon era aleatório. Já aqui existem motivos. Cada porta abre um novo desejo de um morador. Raiva, transformado em matar e dominar. Liberdade, se tornando um pássaro e invertendo gravidade. Beleza, preservada eternamente e longe das dores. Tudo muito simples, mas ainda bastante complexo e incorporando cada um desses elementos de forma mais crua e impactante do que demonstro aqui.

São 666 quartos. O número do capiroto. Algo de ruim realmente deve ocorrer se todos se preencherem. Esse é o tempo para fugir. Alice deve atravessar todos os cômodos de mentes distorcidas, mas existe um porém. A cada nova sala, o corpo do inquilino se deteriora. Isso é a visão da capa. De fato, deterioração. Também por desejo, mas em muito por loucura e fraqueza.

Poderia Alice chegar ao fundo desse poço? Mas e quanto ao restante? Está no passado. A leitura desse mangá pode se mostrar difícil por isso. Os tempos se misturam. No mundo do hotel é algo fixo, se não um tanto rápido para fechar o volume. Mas o restante nunca acontece na ordem real. Temos pontos definidos como “antes da entrada”, mas nem isso reflete tanto a verdade ordenada.

Em Bibliomania devemos tentar absorver tudo. Os mínimos detalhes. Nos tornamos leitores assíduos em busca de conhecimento infinito. Cada traço e simbolismo importa. Tal qual diálogos e interações da Serpente com Alice. Mas principalmente os flashbacks não cronológicos a fundo. Mergulhe nessa obra incrível e descubra uma verdade chocante. Ponto divergente entre leitores, que vai lhe fazer amar ou detestar.

Depois se junte a alguém para discutir ou reflita sozinho tendo um orgasmo intelectual em cima desse mangá de mil camadas comprimidas em algo tão curto, que jamais tinha o direito de impactar tanto. De afervorar com tal força um desejo de leitura a nível do título aplicado.

2 Replies to “Bibliomania – Uma viagem pelo conhecimento em prol da verdade crua”

  1. cara, você ficou batendo martelo com a bíblia cristã e religião. eu quando li o título pensei logo em biblioteca. maníacos por livros e histórias diferentes. não li o mangá mas as portas não seriam representações de livros cada um com sua cara, história, jeito etc

    1. Eu não diria que “fiquei batendo martelo” nesse ponto da religião. A ideia no texto era apresentar um monte de ideias que podem ser ou não verdadeiras ao longo da leitura. Nesse ponto, as portas serem livros é outra interpretação completamente válida, e assim vai. E acho essa uma das belezas de Bibliomania. Essa validade toda para qualquer teoria. A leitura é sua a um nível absurdo, e isso é muito bom.

      Voltando as portas. Eu pensei nelas na real como as do Infinity Train. Só portas mesmo que mostram algum progresso. Já dentro delas é a mente de uma pessoa, um dos poucos fatos explicados a fundo. Agora se a mente é um delírio, uma invenção, um desejo, etc, fica a cargo do leitor.

      O titulo mesmo vem de “desordem obssessiva-compulsiva”. Dai meu paragrafo com “Em Bibliomania devemos tentar absorver tudo”. Se puder leia o mangá e depois comente o que achou de tudo aqui. ^^

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