On the Nanquim: Pinóquio (Pinocchio)

Cuidado donas de casa, esta obra de aparência tão sutil e de arte tão bela e delicada esconde em seu interior a reconstrução de um clássico infantil adaptado para os dias de hoje, onde as mentiras reinam sobre o mundo.

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Muitos devem conhecer o clássico conto infantil Pinóquio (Pinocchio), escrito pelo italiano Carlo Collodi, em 1881, ou no mínimo devem ter visto o filme Disney, lançado em 1940. Apesar das datas tardarem a tempos distantes acredito que a maioria deve ter no mínimo escutado o nome desse carismático menino de madeira, que mentia em excesso e só desejava se tornar um garoto de verdade.

Apesar de ser um conto infantil muitos já tentaram uma abordagem mais madura de seu principal tema, um ser criado artificialmente se transformar em um ser humano. Porém, Winshluss vai mais longe, e recria a obra por completo.

Pinocchio conta a historia de um robô com aparência infantil criado por Gepeto para ser usado como uma arma de destruição em massa. Porém o destino interfere com os planos do cientista quando a barata Jiminy, um inseto desempregado com cisma de querer ser um escritor se muda para dentro da cabeça do robô, assim alterando suas diretrizes e fazendo com que o mesmo saia em uma viagem pelo mundo, seguindo sempre sem rumo.

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Mundo, este, que esta repleto do fantástico humor negro do autor, usado para exibir, juntamente de uma arte belíssima, os podres da sociedade moderna. Temas que variam muito, como estupro, trafego de órgãos, trabalho infantil, ditaduras, miséria, entre muitos outros.

Arte esta que possui um estilo único capaz de levar a obra inteira por si só. Pois, de fato, ela não possui quase nenhuma fala. E quase como um artbook com imagens sequenciais (Nesse estilo temos também a obra “A Chegada” de Shaun Tan), que varia de estilo em diversos momentos, apesar de se manter na maior parte do tempo como tiras de jornal. Acredito que isso se deve ao fato de que Pinocchio, o clássico, foi inicialmente publicado em jornais, para só um ano depois ser publicado como livro.

Outro detalhe interessante desta obra e que o autor utiliza de diversos núcleos, a primeira vista soltos, mas que estão totalmente interligados. Alguns de seus núcleos inclusive correspondem a outras histórias clássicas.

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Mas nem tudo é claro a primeira vista. Muitas das referências, como Branca de Neve, são jogadas diretamente no rosto do leitor, porém outras como Superman podem passar despercebidas se não for prestada a devida atenção.

Este não é um comic para ser lido apressadamente, e sim para ir apreciando aos poucos cada detalhe de cada imagem, para assim tirar um proveito completo do que a obra quer passar.

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Será que ainda me falta falar algo? AH! Sim, desculpe-me Jiminy! A parte deste “sucessor” do Grilo Falante é tão diferente do resto da obra, apesar de essencial, que merece uma pequena análise separada.

Estas, ao contrario de todo o resto, são historias curtas, sem cor, com traço simples, e muitas falas, sobre um personagem totalmente caricato.

Jiminy e a representação de muitos “defeitos”, não da sociedade, mas do ser humano. Aqui não vemos nada que possa vir a sair num jornal como guerras ou estupros, mas sim uma profunda crise de existencialismo.

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Ele é um escritor desempregado, com conhecidos ruins e um azar tremendo. Para “superar” isso ele se entrega aos pecados capitais, tais como gula e preguiça.

No final, juntado tudo isso, temos uma obra lotada de simbolismo, artes que mereciam estar num museu, e vários trechos capazes de fazer você refletir por horas afim.

Para finalizar apenas uma pequena nota que acho importante citar após a conclusão. Para aqueles que não conhecem o autor, Winshluss e o pseudônimo do artista francês Vincent Paronnaud, mais conhecido por ser o diretor da aclamada animação Persepólis, baseada na Ghaphic Novel de Marjane Satrapi, na qual teve participação em sua criação.

Texto publicado originalmente em 18/02/2013

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