Desde pequeno eu gostava muito do Homem-Aranha. Ele sempre foi um personagem carismático, e na época ele estava no auge. Além dos milhares de quadrinhos estava sendo exibida a fantástica animação de 1994 e produtos do aracnídeo apareciam em todo canto, com destaque aos bonecos e jogos de videogame.
Antes teve o Aranha de 67, que hoje ficou mais famoso pelos memes e seu icônico tema de abertura. Depois veio o de 81, onde o herói tinha novos aliados. Desde team-ups famosos, como Capitão América, até os fixos “amigos” inusitados. O Homem de Gelo dos X-Men e Flama, uma heroína original do desenho que tinha poderes de fogo.
Logo o Homen-Aranha já vinha sendo trabalhado nas mídias a um certo tempo, cada vez ganhando mais popularidade, até sair o desenho de 94. E nesse ponto foi onde muitos amigos meus resolveram embarcar nos quadrinhos. Antes os desenhos eram so um passatempo engraçado, mas agora tinha um enredo, um clima mais maduro, inimigos interessantes e por ai vai.
Eu mesmo me arrisquei nos HQs nessa época, li algumas histórias legaizinhas, mas não me fisgou. O único personagem Marvel que gostei dos quadrinhos foi o Hulk e ficou assim por anos. Eu me arriscava ler e nunca era algo que dava gosto. Talvez não tenha tido sorte com as histórias. E depois de velho eu já não ligava mais para o estilo de história dos super-heróis americanos.
Sendo assim eu continuei fã do Homem-Aranha, porem apenas nas telas. Gosto muito das animações e de diversos filmes, mas jamais voltei aos HQs até recentemente. Tentei ler runs atuais, algumas histórias mais fechadas, e com exceção de Ultimate e Superior eu novamente me vi naquilo de não gostar tanto dos gibis. O personagem era legal, mas os enredos não agradavam.
Com isso em mente resolvi fazer a velha e boa pesquisa. Se eu não consigo achar coisas boas sozinho, hora de apelar as listas. Qual a melhor HQ do Homen-Aranha? Os resultados foram vários. Azul, Gauntlet, Coming Home, e assim vai. Muitos títulos mudando aqui e ali, principalmente no topo da lista, mas algo se mantinha. Quase sempre era unanime que A Última Caçada de Kraven era bom.
E me sentindo eu mesmo um caçador aceitei os resultados e obtive minha presa. Uma edição mais nova, com uma capa fantástica, digna de um troféu. Mas não, não bastava admirar. Após dilacerar o plástico que a continha me pus a devorar a obra como uma fera. Cada linha, cada traço, cada palavra, cada sombra. Até que minha mente se foi envolta em fumos de quadrinho novo me vi perdido, deslumbrado, assustado com tamanha qualidade.
Sei que tudo isso é um jeito bonito de dizer que sim, o HQ era bom e eu gostei. Mas sabe, eu adoro essas firulas, esse estilo de texto que as vezes parece mais livro do que quadrinho. E é bem assim os diálogos da Última Caçada. Mas logicamente melhores que esse meu exemplo, afinal é algo escrito pelo mestre J.M DeMatteis.
E sim, já coloco ele nesse nível, tamanha a qualidade da obra. E não pense que os desenhos de Mike Zeck ficam atrás. O traço e as ideias dele complementam perfeitamente a trama, fazendo uma narrativa gráfica absurda. E as cores de Ian Tetrault completam tudo, definindo o tom do título. Mais maduro, mais sombrio. Diria que por muitas vezes brincando no reino do terror.
Mas não sei se diria realmente que é uma história do Aranha. Talvez eu até tenha gostado por conta disso, da supressa. São muitos detalhes marcantes nos diálogos e nas cenas, mas nada supera o fato de que Kraven é praticamente o principal da trama, tendo mais tempo em cena do que o próprio herói. E isso é ótimo, pois constrói muito bem a psique do personagem e o coloca como mais do que um simples homem com roupa de oncinha.
Kraven é o caçador, mas acima de tudo é humano, é mortal. E isso é algo intrínseco a obra, sendo abordado a todo o momento, tanto por Kraven, como pelo homem-aranha. E junto disso temos o medo, o ponto que liga ao terror. Algo que também estás em todos os personagens, mas que ganha maior destaque com Mary Jane e o vilão Vermin, uma espécie de homem rato.
É um quadrinho relativamente tenso, que deixa o leitor fisgado logo no início e que não precisa de detalhes passados para apresentar o enredo. E tudo muito fechado, bem trabalhado e extremamente impactante. E parte disso como já disse vem da narrativa gráfica. Quadros do passado, presente e da mente se misturam a diálogos e pensamentos do presente e de terceiros, passando a todo momento pelo surreal para apresentar suas ideias. E isso é brilhante.
Portanto, eu não consigo dizer que gostei de Homem-Aranha: A Última Caçada de Kraven. Isso é pouco. O HQ realmente virou um troféu, uma memória eterna de algo que pensei que me afundaria mais no desespero de achar um bom título, mas que se fincou como um dos meus favoritos. Indiscutivelmente o melhor que eu já li da Marvel. Um clássico.