Em 1998 foi lançado Pokémon: The First Movie: Mewtwo Strikes Back nos cinemas do mundo todo, sendo uma explosão de sucesso. Ele acabou arrecadando mais de 4 bilhões de Ienes apenas em sua estreia no Japão, e acabou por influenciar muito da cultura da Franquia e da mitologia da série, seja no anime, seja nos games. Este filme, conta a história do Lendário Mewtwo, um Pokémon artificial criado a partir do DNA de Mew, outro Pokémon lendário encontrado na floresta amazônica por um grupo de cientistas, que no anime financiados pela organização criminosa chamada Equipe Rocket.
Mas isso você já sabe.
O problema na verdade, é que a História de Mewtwo foi contada de forma incompleta. Uma cena de dez minutos, que narra o período em que ele foi mantido em incubação no laboratório, foi cortada da versão final. Foi apenas em 1999, quando a versão Kanzenban do filme foi exibida nas televisões japonesas que se pode conhecer esta história. O único lançamento que ela teve para DVD foi em junho de 2000, incluindo tanto a dublagem japonesa quanto americana, mas ainda assim poucos chegaram a conhece-la, e ela passou a ser esquecida nos futuros relançamentos do filme, e seus eventos sequer mencionados no Remake de 2020 Pokémon: Mewtwo Strikes Back — Evolution.
O que é uma pena, pois essa é provavelmente a cena mais importante do universo de Pokémon da História. Vamos a ela.
E claro, teremos Spoilers. Leia por sua própria conta e Risco.
Após isso, a cena corta, e nela temos o primeiro vislumbre de Mewtwo. Ainda recém criado, e se vendo em um vazio, nós ouvidos ele se questionar onde está, quem ele é, e mais importante, o que ele é. Entretanto, apesar dele manifestar fortes sinais vitais, os cientistas ainda não perceberam que ele havia desenvolvido uma consciência. Ao se dar conta de que há pessoas do lado de fora, Mewtwo começa a se perguntar o que são os sons estranhos que eles emitem, e para a sua surpresa, ele tem uma resposta.
Os cientistas percebem que Mewtwo está se comunicando com os outros clones no laboratório através de Telepatia, e é nesse momento em que nos é revelado não apenas quem é a garotinha que está falando com Mewtwo, mas também as verdadeiras intenções de Dr Fuji ao iniciar seus experimentos com Clonagem.
Em mais um corte de cena, Ambertwo apresenta aos outros Pokémon o seu “Lugar de Memórias”, como a cidade onde ela costumava viver, o sol, o vento, o entardecer e a lua. Todos esses fenômenos da natureza impressionam Mewtwo, que fica maravilhado como algo tão belo pode ser real. Entretanto, logo após isso, Charmandertwo começa a brilhar de uma forma misteriosa e se dissipar, com um rápido comentário dos cientistas afirmando que estavam perdendo suas informações vitais.
Mewtwo fica desolado.
Eu genuinamente considero esses dez minutos a cena mais importante do filme todo, e uma pena ela nunca ter sido exibida. Não apenas porque somente nela há a explicação para o Clímax do filme, quando Ash/Satoshi é transformado em Pedra por Mewtwo, e milagrosamente revivido pelas lágrimas dos Pokémon, mas porque ela contribui muito para o desenvolvimento do personagem que é o verdadeiro protagonista do filme, o próprio Mewtwo.
Ao se questionar sobre quem e o que era, Mewtwo estava encarando o absurdo da própria existência. Afinal, ele é um ser criado artificialmente, com o propósito de servir a outras pessoas. Todo o filme é a tentativa dele de se revoltar contra esse cenário, de buscar se impor como algo além disso, de encontrar o próprio sentido. Não como um ser humano, que ele passou a desprezar, e muito menos como um Pokémon, que ele jamais aprendeu a ser, mas como algo além disso. Alguém que precisa se conciliar com o próprio destino.
Sua experiência com os outros clones lhe mostrou que a vida deveria ser algo maravilhoso, mas não lhe mostrou o porquê. Não apenas por ter suas memórias apagadas, mas por ele não ter aprendido lidar com a tristeza, a solidão de não compartilhar nada com ninguém, exceto os clones que passaram pelas mesmas coisas que ele, e por quem ele lutou todo o filme. Mewtwo não aprendeu a viver. E iria demorar muito tempo para ele descobrir.
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